terça-feira, 20 de setembro de 2016

História da Geografia

A geografia na antiguidade

Quando começam as indagações geográficas?

Os primeiros indícios de uma preocupação com a distribuição dos fenômenos surgiram desde os primórdios da humanidade. Nesse período, o homem pouco modificava a natureza, uma vez que estava muito subordinado às condições naturais o que, provavelmente, lhe impunha uma condição de nômade. Essa condição se exprime no constante deslocamento à procura de meios de subsistência ou em atividades guerreiras e condiciona a uma necessidade de conservar informações sobre os caminhos percorridos e as suas direções.

Dessa maneira, surgem os primeiros esboços representando a superfície da Terra, isto é, os primeiros mapas. Você pode confirmar essa informação perguntando a qualquer pessoa, mesmo aquelas que não sabem ler, qual o melhor caminho para ir a um lugar. Ela será capaz de fazer um esboço, mostrando o caminho a seguir, os fatos mais importantes que existem ao longo do percurso e os principais obstáculos. Há mesmo quem diga que fazer mapas é uma aptidão inata do ser humano.

Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância. O mapa mais antigo de que se tem notícia data de 2500 a.C. e é uma representação de um rio, provavelmente o Eufrates, com uma montanha de cada lado desaguando por um delta de três braços.

Nesse período, a concepção existente era de uma Terra plana, com a forma de um disco e constituída por uma massa flutuante na água, com a abóbada celeste por cima.

A expansão política, comercial e marítima dos povos do mediterrâneo (Mesopotâmia, Fenícia, Egito) levou à elaboração de mapas marítimos e, sobretudo, à descrição de lugares e de povos. Tais descrições eram denominadas de périplos.

O périplo mais antigo data do século VII a.C. e foi feito por marinheiros fenícios a serviço do faraó egípcio.

A palavra geografia (descrever a Terra) foi criada pelos gregos, povos que originalmente vão se preocupar com a sistematização desse conhecimento.

O primeiro mapa grego de que se tem notícia foi elaborado por Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.), que viajou e escreveu relatos das suas viagens. Discípulo de Tales de Mileto, é provável que Anaximandro de Mileto tenha sido o inventor do gnómon, instrumento que serve para medir a altura do Sol.

O segundo mapa da Antiguidade foi elaborado por Hecateu de Mileto (560-480 a.C.).
Viajou por toda parte do mundo conhecido, escreveu a Descrição da Terra, obra ilustrada por um mapa onde a Terra é representada por um disco com água em sua volta.

Outros documentos importantes dessa época são os poemas épicos Ilíada e Odisseia, de Homero, conhecidos e apreciados por seu valor literário e pelas informações geográficas contidas na descrição dos lugares distantes e das longas viagens marítimas.

Os dois pontos de vista da Geografia

Você deve ter percebido, até aqui, que duas são as preocupações que fundamentam os conhecimentos geográficos desse período. Um está relacionado com a física terrestre – forma, dimensão, posição sideral. A outra, com a descrição das diferenças da constituição da superfície terrestre e com as diversas culturas que nela se instalam. Essas duas dimensões dão origem a dois pontos de vistas: o da Geografia Geral e o da Geografia Regional.

Dois “geógrafos” gregos

Ø  Erastóstenes (276-194 a.C.) – Além de demonstrar a existência da curvatura da Terra e calcular suas dimensões com notável precisão, também localizou mares, terras, montanhas, rios e cidades no primeiro sistema de coordenadas geográficas, no qual estavam presentes as latitudes e as longitudes. Estudou, ainda, questões relativas à hidrografia e à climatologia, às zonas climáticas e às cheias dos rios, notadamente aquelas relativas ao Nilo. Contudo, os níveis de generalização traziam consigo margens de erros consideráveis, fortalecendo a abordagem regional.

Ø  Heródoto (484-425 a.C.) – Filósofo e historiador, considerado o pai da História e da Geografia, inseriu a história dos povos no contexto geográfico. Suas crônicas registram a gênese da Geografia Regional e retratam os mais diferentes e distantes países. São conhecidas suas viagens à Fenícia, ao Egito e à Babilônia. Ao estudar as cheias do rio Nilo, Heródoto associou a sua desembocadura à letra grega delta, razão pela qual é encontrada até os dias atuais a foz em delta nos livros escolares.

Dois “geógrafos” romanos

Ø  Estrabão (64 a.C – 20 d.C) – Grande enciclopedista destaca o caráter filosófico e transdisciplinar da Geografia. Em sua obra, afirmava que o amplo conhecimento, necessário ao empreendimento de qualquer trabalho geográfico, deve estar relacionado tanto com as coisas humanas como divinas, conhecimento que constitui a Filosofia.

Ao contrário dos gregos, interessava-se por uma abordagem mais humana, cujos ensinamentos destinavam-se às ações de governo. Além do mais, ensinava que os geógrafos não deviam preocupar-se com o que estava fora do mundo habitado. Assim como Heródoto, Estrabão foi um grande viajante, tendo descrito no seu livro várias partes do mundo daquela época. Por tal feito, é, ainda hoje, considerado um dos mais importantes geógrafos da Antiguidade. Estrabão tinha como metodologia geográfica a localização e delimitação dos aspectos físicos de uma região seguidas da descrição da população, com suas lendas, costumes e atividades econômicas.

Ø  Ptolomeu (90 – 168 d.C.) – É o último grande geógrafo da antiguidade, foi também astrônomo e matemático. Interessou-se pelas técnicas de projeção cartográfica e elaboração de mapas. Em sua obra Geographia, de 8 volumes, traz os princípios de construção de globos e projeções de mapas, indica os princípios da Geografia, Matemática e da cartografia, além de organizar um grande vocabulário com todos os nomes de 8000 lugares que conhecia, localizando-os por meio da latitude e da longitude.

A Geografia na Idade Média


Quadro geral do sistema feudal

A obra de Ptolomeu, encerra a primeira etapa da Geografia. A própria riqueza que essa obra produziu por meio de uma ampla sistematização e o método de documentação que preconizou mantiveram-se durante muitos séculos presentes no pensamento geográfico. Como Aristóteles para a Filosofia, Ptolomeu será, até o Renascimento, a autoridade inconteste em matéria do conhecimento da Terra e do sistema Mundo. E, desse modo, a Idade Média é, para a Geografia, um período de estagnação e mesmo de retrocesso do conhecimento produzido por essa ciência.

A queda do Império Romano e a difusão do Cristianismo dão início a esse novo momento da história da humanidade, instalando um processo de fragmentação na produção do conhecimento científico e geográfico. As causas para essa fragmentação podem ser encontradas no contexto social, econômico e religioso daquela época.
As invasões bárbaras vão provocar uma situação de guerra generalizada em boa parte do espaço europeu ocupado pelo Império Romano. Tal situação irá provocar na Europa consequências importantes que levaram ao isolacionismo espacial das sociedades e à instauração do sistema feudal, conforme você pode perceber na passagem a seguir.

O fervor intelectual que havia favorecido a reflexão sobre a forma e a configuração da Terra desapareceu. O Estoicismo deixou de apoiar-se na hipótese geocêntrica e na imagem de um mundo harmonioso que daí emanava. A deslocação progressiva da administração tornou inúteis os levantamentos de informações tão procuradas na época de Augusto. As formas de construção social que triunfaram na Idade Média assentam em relações pessoais: é através de notáveis locais que o poder se exerce à distância; como tal, não é necessário formalizar o saber geográfico nesta sociedade: o conhecimento das pessoas é suficiente. (CLAVAL, 1996, p. 17-8).

A Europa que daí surge está dividida em uma série de pequenas áreas politicamente diferenciadas, deixando de existir uma política uniforme sobre todo o território.

Veja que a desarticulação dos sistemas de comunicação ligada ao fato de a Europa se encontrar relativamente despovoada dificultava o deslocamento de pessoas e a troca de ideias e de bens entre suas diferentes áreas.

O sistema que se constitui é essencialmente isolacionista e tenta resolver seus problemas a partir da auto-subsistência do próprio feudo, prejudicando a mobilidade de pessoas, as trocas e a ampliação do horizonte geográfico que se verificou na Antiguidade

.A influência da Igreja

Nesse período, a Igreja Católica representa o maior poder europeu associada às diversas aristocracias, uma vez que se constitui na única instituição com influência sobre todos os feudos. Dessa maneira, as respostas para as questões da vida cotidiana, individual, social e políticas passaram a ser dadas a partir de interpretações bíblicas.

É claro que o homem continua se perguntando sobre as questões geográficas. Entretanto, indagações sobre “como” e “onde” continuam a ser feitas, só que agora as respostas são buscadas nas ordens religiosas e não nas cosmologias, como era mais comum anteriormente. A Bíblia era um instrumento que continha referências cosmológicas e geográficas, as quais davam respostas a tais perguntas. Veja que, no fundo, é a Igreja e não a ciência que busca respostas para indagações da realidade sócio-espacial.

Vale destacar que nesse período ocorre certo imobilismo populacional e uma diminuição dos eventos das viagens e, com isso, um maior desconhecimento do mundo real. Esses fatores aliados ao poder da Igreja provocam a diminuição da busca de respostas nas ciências. “Era natural que em um período de lutas constantes houvesse grande dificuldade de comunicação e uma queda no ritmo do comércio e nas preocupações filosóficas e, consequentemente, um retrocesso do conhecimento na Europa Ocidental”. (ANDRADE, 2006, p. 46).

Nem tudo foi sombra na Idade Média

Se por um lado o conhecimento declinava no mundo ocidental “em outras áreas, porém, a formação de Estados fortes e a intensificação das viagens e do comércio permitiram que as tradições culturais gregas e latinas se integrassem com a de povos do Oriente e houvesse maior difusão cultural” (ANDRADE, 2006, p.46). Aqui um fator merece destaque: a expansão Árabe-Muçulmana.

A expansão Árabe-Muçulmana

A civilização Árabe-Muçulmana emerge depois da queda de Roma e se baseia na nova e vigorosa religião do Islã. Surgida no século VII, seu fundador foi Maomé (570-632), um próspero mercador da cidade de Meca.

Maomé acreditava ter visto o anjo Gabriel que lhe ordenou “recitar em nome do Senhor”. Tomado por essa visão, Maomé se considera o escolhido e se transforma em profeta.

Nesse período, a maioria do povo árabe acreditava em deuses tribais, entretanto, nosgrandes centros, a maioria da população já havia tomado conhecimento do Judaísmo e do Cristianismo, o que facilitou a aceitação de um Deus único anunciado por Maomé.

Os padrões islâmicos de moralidade e as normas que regulam a vida cotidiana são fixados pelo Alcorão, que os muçulmanos acreditam conter a palavra de Alá, revelada a Maomé. Para eles, o Islã é o aperfeiçoamento do Judaísmo e do Cristianismo e reconhecem Jesus como um grande profeta, mas não divino.

Maomé unifica as tribos árabes, envolvidas em constantes disputas, através da difusão da fé islâmica.

Entre os séculos VIII e IX, a civilização muçulmana conhece o seu apogeu. Enquanto o conhecimento estava em baixa na Europa ocidental, os muçulmanos desenvolviam grandes conhecimentos embasados nas realizações dos gregos antigos através da tradução de obras gregas para o árabe.
Com as suas conquistas, o império árabe estende-se desde a Espanha até a Índia e foi unificado, principalmente, pela fé. Por volta do século XI, começam a perder seu domínio.

Texto;
O Império Muçulmano dominava uma área muito vasta, desde o Afeganistão até o Atlântico, com exceção da Itália, França, Turquia e Bálcãs. Devido a problemas de ordem militar e administrativa (tal como nos Impérios Grego e Romano), surgiu a necessidade de conhecer o mundo. Ao mesmo tempo surgia também a necessidade religiosa de viajar, na medida em que todo mulçumano tem de ir a Meca, pelo menos uma vez na vida. Assim, as viagens e o comércio sofreram um novo impulso. A geografia verificou um novo avanço. Entre os viajantes árabes destacam-se Al-Biruni, Al-Idrisi (1099-1164) e Ibn Battuta, que escreveram extensos e valiosos relatos sobre as regiões por onde viajavam. Idrisi, ao serviço do rei da Sicília, desenvolveu a escola de Palermo e pode elaborar o mapa árabe mais completo que se conhece.
Por outro lado, os monarcas muçulmanos promoveram as ciências e as artes. Foi traduzida para o árabe a obra de Ptolomeu e desenvolveu-se a geografia, a astronomia, a astrologia, a matemática e a geometria.
Apesar disso, o conhecimento e as descrições geográficas produzidas são muito imprecisas e as localizações pouco rigorosas. Os Árabes não se serviam da latitude e da longitude para localizar os lugares à superfície da Terra e elaborar mapas. A latitude e a longitude são utilizadas pelos astrônomos (considerados, aliás, como os melhores do mundo) nas suas observações, mas quem faz os mapas são os geógrafos, que não se servem dos dados astronômicos. Surge, assim, no mundo árabe uma separação entre geógrafos e astrônomos que não existia na Antiguidade (FERREIRA; SIMÕES, 1990, p. 48-49).

Os tempos modernos

O Renascimento

O Renascimento foi um dos mais importantes momentos de inflexão (mudança de direção) da história do ocidente e significa uma ruptura entre o mundo medieval, caracterizado como uma sociedade agrária, estamental, teocrática e fundiária, e o mundo moderno, caracterizado pela urbanização, pelo modo burguês de pensar e, principalmente, por se caracterizar como uma sociedade de trocas.

O Renascimento vai do século XV ao XVII. Neste momento ocorrem significativas mudanças. Na Europa, estas mudanças estão na origem do que viria a ser o mundo contemporâneo.

Como vimos na aula anterior, a Europa, da Idade Média, é uma sociedade relativamente estável e fechada. Mas, esse período inicia grande processo de abertura e expansão comercial e marítima.

A identidade das pessoas, de forte vinculação com o clã (tribo constituída de varias famílias subordinadas a um chefe hereditário) com a propriedade fundiária, passa a ter como referência o nacionalismo e o cultivo da própria individualidade.

O homem vai tornando-se, ao poucos, o centro das preocupações, possibilitando paulatinamente a instalação de mentalidade laica (o que se opõe à eclesiástica), a qual vai se desligando do sagrado e das questões transcendentais tão características da Idade Média.

Essas mudanças afetaram todas as esferas sociais. Na esfera econômica, o comércio e a manufatura tiveram grande expansão e o capitalismo substitui amplamente as formas medievais de organização econômica. Na esfera política, o governo central torna-se mais e viabiliza a consolidação do Estado, nova forma de governar. Na esfera religiosa, veremos a ascensão do protestantismo. Na esfera social, surge o que hoje chamamos de classe média, que assume um papel importante no campo da política e da cultura. Na esfera cultural, o clero perde o monopólio do ensino e a teologia cede lugar à ciência na explicação do mundo.

A sociedade renascentista é uma sociedade fascinada pela vida da cidade, pelo comércio e pelos prazeres terrenos. A ideia de viver bem neste mundo passa a rivalizar com a promessa do paraíso.

Ao se afastarem da orientação religiosa predominante na Idade Média, a sociedade que daí emerge vai discutir a condição humana na sua relação com o mundo, abrindo, assim, novas possibilidades de reflexão sobre questões políticas e morais.

Note que nesse processo de transição do medieval para a modernidade o mundo vai tornando-se cada vez mais laico e independente da tutela da religião e o homem vai sendo levado a pensar e analisar a realidade que o cerca em toda a sua objetividade e não como resultado da vontade divina.

Perceba que neste momento aparecem novas instituições políticas e sociais – nações, estados, novas legislações, novas classes sociais, exércitos etc. – o que implica também numa nova maneira de pensar a vida social, a história e a geografia.

As cidades ganham vida, atraindo pessoas de diferentes lugares dispostas a conquistar um espaço no mundo, a competir e a enriquecer. A cidade vai transformar-se também no lócus de sustentação do desenvolvimento do capitalismo, inaugurando também uma nova divisão social e territorial do trabalho (trataremos melhor desse assunto na aula seguinte, na qual veremos as consequências espaciais de toda essa transformação).


O Iluminismo

Mais que um movimento, o Iluminismo foi um modo de pensar. Falando de modo geral, foi uma consequência da “revolução científica” do final do século XVII, que havia transformado a concepção que a maior parte das pessoas instruídas tinha a respeito do mundo habitado.
Como vimos a pouco, o Renascimento inicia o movimento de transição da sociedade medieval para o capitalismo moderno. Sistema econômico voltado para a produção concentrada de bens, para a troca, para a expansão comercial, para a circulação crescente de mercadorias e para o adensamento populacional. Perceba que é um sistema que demanda constantemente ajustes e ordenamento espacial (veja a aula 6 – Espaço e modernidade).

Essa sociedade que emerge é individualista e financista. Voltada para expansão comercial e busca do lucro, ela engendra novos valores e atitudes que passam a reger o comportamento social. Veja que a nova sociedade mexe de maneira radical com a estruturação espacial: expansão significa busca e dominação de novos territórios; produção concentrada exige deslocamento de população e novo papel para as cidades; circulação demanda vias de comunicação e de fluxos, dando origem a redes urbanas hierarquizadas.

O desenvolvimento científico

Essas novas condições fizeram do comércio a principal atividade motora da sociedade que daí emergia. Para esse fim, organizavam-se viagens internacionais e faziam-se guerras nas quais eram disputadas as melhores rotas comerciais, as fontes de produtos e matérias-primas e a clientela. As grandes navegações ocorreram nesse cenário.

A valorização e intensificação das trocas, a descoberta de novas rotas e do desenvolvimento das redes urbanas, e a possibilidade, cada vez maior, de se auferir lucro repercutiram no estímulo à produção. Tornava-se urgente produzir mais e em condições capazes de responder à demanda que se tornava cada vez mais intensa.

Esse quadro passa a exigir dos produtores uma outra racionalidade e, principalmente, planejamento. Além disso, a intensificação e ampliação dos mercados requerem um desenvolvimento tecnológico que acompanhe os novos ritmos da produção em larga escala para um mercado que já se reveste de tendências mundiais.

Perceba que nesse caso estão dadas as condições para o desenvolvimento tecnológico voltado para a invenção e produção de máquinas que potencializasse a produção e o barateamento dos produtos. Isso provoca um verdadeiro corre-corre por engenhos tecnológicos.

O planejamento, a racionalidade e o desenvolvimento da pesquisa científica vão, aos poucos, sendo disseminados visando à produção, e também vão se disseminando na vida cotidiana.

Essa turbulência provoca a curiosidade dos homens no sentido da busca do entendimento dos mecanismos que regulam o mundo circundante, ou seja, o homem da modernidade procura compreender os mecanismos da vida e da natureza.

Com a saída sistemática de populações do campo em direção à cidade, o interesse pela produção agrícola tornou-se iminente dado que, pela primeira vez na história, dever-se-ia produzir para um contingente de produtores não primários. Essa preocupação manifesta-se numa verdadeira revolução agrícola que buscava aumentar a produção e a produtividade de alimentos. E esse movimento somente foi possível porque junto com a revolução agrícola vieram também a revolução científica, tecnológica e industrial.

As grandes navegações

Imagine que, diante do quadro apresentado até aqui, os interesses econômicos e de expansão manifestavam-se de forma nunca vista na história. São esses interesses que vão provocar, entre os séculos XVI e VXII, o ingresso da Europa Ocidental numa era de agressiva exploração ultramarina e expansão econômica que transformará em definitivo o mundo em que vivemos. Os exploradores europeus descobriram um novo caminho para a Índia, fazendo o contorno do continente Africano. Conquistaram, colonizaram e exploraram a América, o que provocou um extraordinário aumento nas atividades mercantis e no suprimento monetário, promovendo o desenvolvimento do capitalismo.

A institucionalização da Geografia

A gênese da Geografia moderna

A constituição da Geografia enquanto saber científico sistematizado e institucionalizado é fruto de um processo lento que tem por base fatores diversos no que se refere aos fenômenos históricos e estruturais relacionados a determinado grau de desenvolvimento material das sociedades e às ideias a eles vinculadas, ou seja, o desenvolvimento da Geografia (assim como de todas as outras ciências) prescinde do desenvolvimento da vida material e do pensamento filosófico-científico.

Dessa forma, a Geografia moderna, em seu nascedouro, necessitou de uma série de condições históricas para poder se tornar realidade.

Podemos dizer que a grande revolução para o conhecimento geográfico começa a ser preparada a partir da extraordinária expansão do espaço conhecido, do domínio da configuração da Terra e do desprezo às ideias e crenças a respeito da superfície terrestre que vem com a Idade Moderna. Mas, para que a Geografia desponte como um saber autônomo, particular, faz-se necessárias ainda certas condições que só estarão suficientemente amadurecidas no século XIX.

Pressupostos para o surgimento da Geografia moderna

Como vimos anteriormente, a institucionalização da Geografia dependeu tanto de fatores externos quanto de fatores de ordem interna à lógica do conhecimento científico em geral. Vimos também que o desenvolvimento dessa lógica está intimamente ligada ao processo mais amplo de desenvolvimento histórico da humanidade.

Em se tratando especificamente da institucionalização do conhecimento geográfico moderno, que é o nosso caso, podemos dizer que quatro ordens de fatores ou pressupostos fundamentais contribuíram para a erupção da sistematização da Geografia como ciência:

a) o efetivo conhecimento do planeta (alargamento do horizonte geográfico, ampliação do ecúmeno – áreas da Terra habitadas pelo homem);
b) acúmulo de informações sobre os diferentes lugares;
c) aperfeiçoamento das técnicas cartográficas;
d) desenvolvimento do conhecimento científico-filosófico.

O conhecimento efetivo da extensão real da Terra é um pressuposto fundamental para a emergência da Geografia moderna e as condições materiais para a realização de tal conhecimento encontram-se na expansão europeia que se concretiza através das grandes navegações e descobertas e na constituição de um espaço mundial de relações.

O conhecimento efetivo da extensão real da Terra é um pressuposto fundamental para a emergência da Geografia moderna e as condições materiais para a realização de tal conhecimento encontram-se na expansão europeia que se concretiza através das grandes navegações e descobertas e na constituição de um espaço mundial de relações.

No século XIX, a constituição de um espaço mundial já é uma realidade efetiva e consolida definitivamente aquele processo que se inicia com as primeiras evidencias de decadência do sistema feudal, ou seja, no século XIX, com a Revolução Industrial, o Capitalismo está consolidado. Essa consolidação atua de forma decisiva no processo de reafirmação das relações mercantis de produção que, ao se articular em escala planetária, estende a influência das sociedades europeias em todo o globo.

Preste atenção, também, ao fato de que a constituição de uma economia mundial desembocou numa exploração colonial, pois esse processo de expansão econômica exigiu uma necessária apropriação e submissão de novos territórios e sua incorporação ao sistema produtivo.

Se você retomar a leitura da aula 2 (A ação humana), verá que esse processo se baseia, pelo menos, em dois elementos fundantes da Geografia: apropriação e exploração.

A apropriação desses novos territórios ocorre de forma lenta e vai, paulatinamente, fragmentando os modos de vida locais, promovendo novos ordenamentos e “ajustes espaciais”. Além disso, coloca o europeu expansionista em contato com realidades espaciais bastante diversas da sua. Para ter o conhecimento dessas novas realidades particulares e de suas localizações (lembre-se de que localização e nomeação dos lugares são elementos constitutivos do saber geográfico, veja aula 1), o levantamento de informações sobre esses lugares singulares torna-se imprescindível.

O acúmulo de informações

Como vimos, os grandes descobrimentos dão origem a um conhecimento cada vez mais apurado da realidade do planeta, fator primordial para o surgimento de uma Geografia moderna. Junto a esse conhecimento, faz-se necessária a sistematização de informações sobre os diferentes pontos da Terra, ou seja, sobre os diferentes territórios que vão sendo incorporados às relações mercantis.

A descoberta de novas terras torna possível a expansão das relações capitalistas. A apropriação e incorporação de novos territórios exigem, como já foi dito, o conhecimento de realidades distintas entre si e distintas do quadro europeu de referência.

Assim, a exploração colonial demanda o levantamento constante de informações que vai sendo feito de forma criteriosa, dando origem a grande acervo de dados.

O acúmulo de informações é primordial nesse momento de expansão, uma vez que o “mundo”, tal qual o conhecemos hoje, está sendo descoberto e apropriado (dominado) e do qual se tem poucas informações. Além disso, conhecer e localizar detalhadamente os diferentes lugares é uma tarefa demandada pela própria necessidade de realização da expansão capitalista que, para aumentar seu domínio e fortalecer suas atividades nos territórios colônias, necessita de informação.


A cartografia

O avanço e aprimoramento da cartografia (instrumento por excelência geográfico) se constituem efetivamente num outro pressuposto da Geografia moderna. Esse avanço na linguagem cartográfica é uma demanda primária e uma exigência prática para o pleno desenvolvimento das relações comerciais que requer o estabelecimento preciso de rotas de navegação, assim como a localização exata dos lugares e portos.

O tráfego terrestre também se amplia em função da regularidade crescente das trocas e do atendimento de distâncias maiores a serem percorridas.

É a economia “global” que emerge, articulando regiões diferentes e distantes e demandando a confecção, cada vez mais detalhada, de mapas confiáveis que facilitem o deslocamento mais rápido e seguro dos meios de transporte, os quais também sofrem grande desenvolvimento nesse período. Mapas mais confiáveis propiciam ainda o conhecimento e a extensão real das colônias.

A técnica de impressão, recém-descoberta nesse período, populariza o instrumental cartográfico que vai se juntar às descrições dos viajantes naturalistas do século XVII, dando-lhes cunho mais geográfico.

Assim, dos relatos ocasionais e intuitivos dos exploradores e aventureiros passa-se, com a evolução da própria empresa colonial, às descrições ordenadas e imbuídas do espírito objetivo das ciências modernas nascentes. Pode-se dizer que tal situação, plenamente alcançada no século XVIII, é já o anteato imediato do processo de sistematização da Geografia (MORAES, 2002, p.19)

Evolução das ideias

O período que estamos chamando aqui de transição do Feudalismo para o Capitalismo, que promove grandes transformações materiais, é também marcado por um clima de grande efervescência de ideias e de extraordinário alargamento do horizonte do pensamento humano.

Você deve estar se lembrando da aula 5, na qual falamos sobre a ordem feudal e sua interpretação teológica do mundo. Essa ordem tinha como base de legitimação e interpretação dos fenômenos a teleologia divina. Para se contrapor a essa visão, as ideias nascentes vão se firmar sobre uma concepção racionalista do mundo na qual a valorização e as possibilidades da razão humanas são privilegiadas em detrimento das explicações divinas. Os últimos anos do século XVIII e os primeiros do século XIX marcam de modo especial esse embate.

Uma nova forma de saber se instala, configurando um novo sistema de conhecimento. Surge daí as ciências modernas.

Essas mudanças que começam já no século XV-XVI vão se consolidar com o projeto científico levado a cabo no século XIX. Esse projeto tem como pontos de apoio fundamentais a razão e uma fé generalizada no progresso.

Como já assinalamos, ao contrário da ordem feudal, que se embasava numa visão teocêntrica (Universo e homem são criaturas), a razão coloca o homem no centro do Universo, e a Terra e a natureza são vistas como submissas e passíveis de apropriação generalizada pelo homem.

A dessacralização da natureza vai permitir a intervenção humana na ordem natural e a constituição da ciência moderna, entre elas a Geografia. O pensamento científico passa a ter nessa concepção um papel fundamental. E é através da possibilidade de intervenção racional do homem sobre a natureza e da eficácia científica que o homem moderno cimenta sua fé no progresso.

Surge também nesse período, que começa com o Iluminismo, uma discussão fundamental para a Geografia moderna: as relações entre a sociedade e o meio. Montesquieu (1689-1755), por exemplo, em O espírito das leis, dedica um capítulo ao estudo das relações natureza-sociedade. Rousseau (1712-1778) dizia, por outro lado, que seis meses passados num lugar o instruía mais que cem livros.

Como se vê, essa mudança de mentalidade faz aflorar diversos temas pertinentes à Geografia (além do já destacado), tais como: a questão da relação da sociedade com o território; a influência do meio (especificamente do relevo e do clima) na organização social; e as formas de governo e a extensão do território, que são temas recorrentes entre os pensadores já referidos, como é o caso de Montesquieu e Rousseau.

A sistematização da geografia (Prússia – Atual Alemanha)

A sistematização do conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do século XIX. E nem poderia ser de outro modo, pois pensar a Geografia como um conhecimento autônomo, particular, demandava certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão suficientemente maturadas. Estes pressupostos históricos da sistematização geográfica objetivam-se no processo de avanço e domínio das relações capitalistas de produção. [...]

A especificidade da situação histórica da Alemanha, no início do século XIX, época em que se dá a eclosão da Geografia, está no caráter tardio de penetração das relações capitalistas nesse país. Na verdade, o país não existe enquanto tal, pois ainda não se constitui como Estado Nacional. A Alemanha de então é um aglomerado de feudos (ducados, principados, reinos), cuja única ligação reside em alguns traços culturais comuns. Inexiste qualquer unidade econômica ou política, a primeira começando a se formar no decorrer do século XIX, a segunda só se efetivando em 1870, com a unificação nacional. Geografia: pequena história crítica. Fragmentos (MORAES, 1983, p. 34/44).


Alexander Humboldt

Humboldt (1769-1859) - Humboldt é considerado, juntamente com Ritter, o pai da Geografia moderna. Nascido em 1769, pertencia a uma família aristocrática prussiana. Seu pai preocupou-se desde cedo em dar uma esmerada educação aos filhos através de preceptores. Alexandre de Humboldt recebeu precocemente uma boa formação em Economia Política, Matemática, Ciências Naturais, Botânica, Física e Mineralogia.

Viaja para a Venezuela, onde sobe o rio Orenoco até o Cassiquiare que faz parte da bacia do rio Negro, afluente do Amazonas. A etapa seguinte leva-o através da Colômbia até o Equador e ao Peru. Esse deslocamento lhe dá a oportunidade de escalar alguns dos picos mais altos dos Andes e de medir as suas altitudes. Através desse procedimento, observa a variação do clima com a altitude, tendo introduzido a terminologia de quente, temperado e frio, ainda hoje utilizada. Segue para o México e depois para Cuba. Volta à Europa após passar pelos Estados Unidos. Essa viagem durou quatro anos e com ela recolhe uma riqueza tão grande de dados que sua publicação leva vários anos.

Os trabalhos que decorrem de suas viagens estão voltados para a explicação daquilo que diferencia as diversas áreas do globo, tentando encontrar as relações que se estabelecem entre os diversos fenômenos da superfície da Terra, de modo a produzir espaços com características diferentes. Ou seja, interessou-se pela diferenciação espacial e considerou a paisagem resultante da interação de vários fenômenos. Comparou as formações vegetais de regiões diversas entre si, como foi o caso da América Latina e da Sibéria.

Tentou encontrar semelhanças entre as culturas dos povos asiáticos e dos índios americanos. Das suas investigações feitas em escalas diferentes (mundial, continental ou regional) resultou uma sistematização do conhecimento geográfico. Assim, com Humboldt, a Geografia passa a ser uma ciência sistemática. Os fenômenos poderiam ser estudados tanto no nível mundial quanto no regional. A utilização de comparações universais foi talvez a sua contribuição mais importante. Ele comparava sistematicamente as paisagens das áreas que estudava com outras partes da Terra. O seu método era empírico e indutivo. Partia dos casos particulares para os gerais, tentando obter uma lei geral, válida também para os casos não observados.

Humboldt foi essencialmente um grande viajante naturalista de sua época. Ao contrário de boa parte de seus colegas geógrafos, que permaneceram nos gabinetes, ele entende que a pesquisa deve se iniciar no campo. Os seus conhecimentos de Mineralogia, Geologia e Botânica permitem-lhe desvendar muitos traços interessantes nas paisagens e relacioná-los. Em lugar de justapor informações, procura compreender como os fenômenos se condicionam. No caso dos Andes, visto há pouco, a partir da altitude, ele introduz um escalonamento das formas de vegetação e tipos de agricultura, passando das terras quentes para as terras temperadas e, em seguida, para as terras frias. Nas pesquisas de biogeografia, introduz o conceito de meio.

Para melhor compreender a distribuição dos fenômenos geográficos, Humboldt utilizasse das observações que faz em diferentes escalas, inaugurando a ideia de que os lugares não se explicam em si mesmos. Foi ele o primeiro a perceber a influência das correntes marítimas sobre os climas. Percebe isso especialmente nas costas do Peru, onde empresta o nome a uma corrente fria que se origina no polo Sul e ameniza a temperatura nas costas desse país. Foi ele também o primeiro a perceber os mecanismos que regem tais correntes.

Humboldt igualmente sabe fazer uso dos dados estatísticos, que as administrações coloniais acumulavam, para tratar das realidades humanas da América hispânica. Em um de seus livros (Ensaio político sobre o reino de Nova Espanha, 1811), analisa a situação calamitosa da escravidão em Cuba.

Para Humboldt a explicação dos fenômenos deve partir do meio, mas devemos ter sempre em mente que este reflete realidades em outras escalas: outra marca de Humboldt.

Karl Ritter

Karl Ritter (1779-1859) - Ritter nasce dez anos depois de Humboldt e morre no mesmo ano em que este; teve uma vida pouco movimentada. Enquanto Humboldt foi um grande viajante, Ritter foi um homem que se dedicou mais à reflexão, ao magistério e ao intuito explícito de sistematização da Geografia. Sua obra é explicitamente metodológica, vemos isso, por exemplo, no título de seu livro mais importante: Geografia comparada.

A formação de Ritter em História e Filosofia também difere daquela de Humboldt. Mas, a ideia de unidade terrestre e da relação entre o lugar, a região e o todo terrestre está presente nos dois autores. Ritter propõe o método descritivo regional e utiliza comparação para fazer compreender as especificidades da cada país e as configurações de sua história.

Com Ritter, a Geografia deixa de ser uma modesta descrição da Terra e torna-se indispensável para quem quer compreender a cena mundial, a dinâmica das civilizações e a maneira através da qual os povos exploram o seu ambiente.

O problema essencial estudado por Ritter é o das relações, das conexões que se estabeleciam entre os fatos físicos e humanos. Para ele, a Terra e seus habitantes desenvolvem mútuas e estreitas relações onde um elemento não pode ser considerado em sua plenitude sem que se considerem tais relações. Nesse sentido, a História e a Geografia devem estar sempre juntas.

Dessa forma, foi um observador atento do devir histórico dos povos que habitavam em cada uma das regiões que estudava. Entendia o espaço terrestre como o teatro da história e considerava que quanto maior o desenvolvimento cultural maior harmonia seria estabelecida entre o homem e a natureza.

Após a morte de Humboldt e de Ritter, a Geografia sofre certo declínio. No entanto, mantém-se como disciplina com grande dinamismo e se expressa por duas vias: através das inúmeras sociedades de Geografia e a permanência como disciplina lecionada no ensino primário e secundário. Do ponto de vista da institucionalização, os impactos de seus ensinamentos não foram imediatos: as cátedras de Geografia permanecem raras nas universidades e os estudantes que frequentam as suas aulas seguem carreiras variadas.

Friedrich Ratzel (1844-1904) Determinismo geográfico

Sua obra foram de fundamental importância para o processo de sistematização da Geografia moderna. Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações de um estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas humanos, o qual denominou de antropogeografia. Seu projeto teórico, com forte caráter interdisciplinar, teve a preocupação central de entender: a difusão e distribuição dos povos sobre a superfície da Terra; as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais; a influência das condições naturais sobre o comportamento humano; as formações territoriais e intimamente vinculadas a estas, a dimensão política da relação homem-natureza.



Ratzel e a Antropogeografia

Ao longo do século XIX, a Geografia vai se desenvolver mais rapidamente na Alemanha do que na Grã-Bretanha. Nesta, a Geografia permanece vinculada aos modelos do século XVIII, no qual se privilegia a exploração das pesquisas históricas em detrimento do estudo das relações que estabelecem entre os grupos humanos e os meios em que vivem. Dessa forma, o impacto do evolucionismo de Darwin foi mais direto na Alemanha que em sua pátria.

Friedrich Ratzel (1844-1904) é filho de uma modesta família do Sudoeste da Alemanha. Na universidade, estuda Zoologia. Tem contato com o darwinismo através de Moritz Wagner que introduziu as teses do cientista inglês na Alemanha e se distingue pelo papel que dava às migrações para explicar a diferenciação das espécies. A primeira obra de Ratzel (Essência e Destino do Mundo orgânico, 1869) é inspirada nesse mestre.

Ratzel participa ativamente, como militar, da guerra de 1870 contra a França e em seguida a sua carreira toma novos rumos, mas sua ligação com a política e com a conquista de território continua através das análises científicas que irá fazer criando mesmo um novo ramo da Geografia, a Geopolítica.

Depois da guerra, Ratzel parte para os Estados Unidos, como jornalista, onde passa vários anos. Nesse período, visita também o México. De volta à Alemanha, defende uma tese sobre a imigração chinesa na Califórnia.

Ao doutor Ratzel é designada, em 1876, uma cátedra de Geografia na Universidade de Munique. Em 1886, ele troca essa universidade pela Universidade de Leipzig, considerada de maior prestígio.

A concepção de Geografia de Ratzel tem forte influência das formulações de Humboldt e Ritter, autores que estudou detidamente. Mas essa concepção é estruturada também sob forte influência de Darwin. Ratzel procura estabelecer leis gerais que rejam a influência do meio sobre os grupos humanos, dedicando-se ao estudo das relações que se desenvolvem entre as sociedades e o ambiente em que vivem, mas introduz uma outra ideia: o movimento é uma das características centrais do mundo vivo, em especial do homem. Essa ideia leva-o a interessar-se pelos fenômenos de circulação que as sociedades desenvolvem de um ponto da Terra a outro.

Antônio Carlos Robert de Moraes sobre a importânciada obra de Ratzel.

A obra de Friedrich Ratzel representou um papel fundamental no processo de sistematização da geografia moderna. Ela contém a primeira proposta explícita de um estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas humanos. Foi, assim, de sua autoria uma das pioneiras formulações – sem dúvida a mais trabalhada – de uma geografia do homem. A importância de sua obra também emerge por ela ter sido uma das originárias manifestações do positivismo nesse campo do conhecimento científico. Ratzel foi um dos introdutores desse método – que posteriormente se assentou como dominante – no âmbito do pensamento geográfico. O significado de sua produção para o desenvolvimento da geografia pode ainda ser apontado no fato de ele ter aclarado aquela que viria a ser a principal via de indagação dos geógrafos, ou seja, a questão da relação entre a sociedade e as condições ambientais (MORAES, 1990, p. 7).

Ratzel dividiu a Geografia em três grandes ramos: Geografia Física, Biogeografia e a Antropogeografia. Vai dedicar seus estudos fundamentalmente a esta última.

Positivismo e Determinismo na obra de Ratzel

Você já deve ter lido ou ouvido alguém fazer relação entre o nome de Ratzel e o Determinismo geográfico e/ou contrapondo este ao possibilismo de Vidal de la Blache (assunto que estudaremos na próxima aula). Iremos, então, tentar entender o que é o Determinismo e qual a ligação deste com a obra de Ratzel.

Como já vimos, o período de transição da Idade Média para a Moderna e a consequente consolidação do Capitalismo foi um período de grandes transformações sociais, econômicas, políticas, espaciais, culturais e também de grandes mudanças nas ciências e nas formas de pensar o mundo. Vimos ainda que as formas de pensar o mundo, originárias desse período, têm forte relação com o desenvolvimento das Ciências Naturais, principalmente a partir dos estudos de Física de Newton. Para este, o conhecimento deveria ser o resultado da observação, do cálculo e da comparação dos resultados, de modo a permitir a elaboração de leis.

Essa ideia de que a ciência deveria ser positiva se espalhou para todos os ramos das ciências, inclusive das chamadas ciências humanas e sociais, entre elas a Geografia.
Mas, é somente em meados do século XIX que surge o Positivismo. Embasado nas elaborações de Auguste Comte (1791-1857), o Positivismo fundamenta-se no palpável, no que é passível de comparação e de experimentação. Na concepção positivista, para se alcançar o conhecimento, a observação é imprescindível. O Determinismo geográfico tem suas raízes fincadas no Positivismo, principalmente em sua fase evolucionista. Essa fase tem como base fundamental a teoria darwinista da evolução das espécies, na qual o homem nada mais é que um ser dependente dos processos naturais.

O Determinismo considerava o homem com um produto do meio, logo, deveria adaptar-se ao meio ambiente para que pudesse sobreviver. Para seus defensores, as condições naturais, especialmente a climática, determinam o comportamento do homem, interferindo inclusive na sua capacidade de progredir. Assim sendo, em áreas climáticas mais propícias (as zonas climáticas temperadas) floresceriam povos mais desenvolvidos. Tais ideias foram adotadas por alguns estudiosos da Geografia, e fora dela, que viam nelas a possibilidade de explicar a sociedade através de mecanismos que ocorrem na natureza.

É comum, nos manuais e nas obras de vulgarização e/ou divulgação, a associação do nome e da obra de Ratzel ao Determinismo geográfico.

Paul Vidal de La Blache (Possibilismo geográfico)

Em meados do século XIX, a disputa entre a Prússia e a França se acirra, culminando na guerra de 1870. Dessa guerra, a França sai derrotada e perde o controle da Alsácia e da Lorena. Nesse período, a Geografia obtém grande desenvolvimento e, apoiada pelo Estado, é implantada em todo o Ensino Básico, surgindo as primeiras cátedras e os institutos de Geografia. Até o advento da guerra, os estudos geográficos eram muito negligenciados pelos franceses, ao contrário da Prússia, que já contava com grandes nomes no ramo da ciência geográfica. Após terem sido derrotados, os franceses perceberam a importância do ensino da geografia e do desenvolvimento da pesquisa geográfica, como mostraremos no decorrer desta aula. Mesmo sendo derrotados pelos alemães, os franceses esforçaram-se para transferir para seu país o modelo de ensino adotado na Alemanha.

Caberá a Paul Vidal de la Blache a tarefa maior de implantação e institucionalização da Geografia francesa. Tomando como referência, as formulações de sábios alemães (Humboldt, Ritter, Ratzel), Vidal de la Blache elabora com originalidade a sua geografia e dá sustentação para a criação de Escola Francesa de Geografia, que irá, durante muito tempo, influenciar o desenvolvimento dessa área em várias partes do mundo.

Para construir o edifício teórico e metodológico da Geografia, Vidal de la Blache se embasará na ideia de totalidade, de “possibilismo”, de mapeamento das densidades e de gênero de vida.

Guerra franco-prussiana (1870)

Prússia “vence” a guerra. O resultado da guerra, ou seja, a derrota humilha profundamente grande parte da população francesa. A partir dessa derrota, a Alemanha aparece para os franceses como um desafio nos domínios político, intelectual e econômico.

Após a guerra, os franceses tomam, dolorosamente, a consciência da negligência com os conhecimentos geográficos que tinham até então. Constataram que o inimigo estava mais bem preparado no tocante ao conhecimento do território e descobriram, a duras penas, sua ignorância geográfica. Para eles, a superioridade militar e econômica da Alemanha derivara de seu grande desenvolvimento científico. Dessa forma, a Alemanha se constituía, ao mesmo tempo, em inimigo e exemplo a ser seguido.

Vidal nasce no sul da França. Membro de uma família de professores e militares, seu pai, professor, deseja para o filho a mesma profissão, por isso o envia para um colégio interno em Paris onde teria melhores condições para fazer uma carreira brilhante. Na Escola Normal Superior, onde estuda, se dedica, principalmente, aos estudos de história. Vai para Escola de Atenas, onde fica por três anos, e prepara sua tese sobre a Ásia Menor. Percorrendo a Turquia para preparação de seu trabalho, toma como guia a obra que Carl Ritter havia escrito sobre esse país. A partir desse contato inicial, passa a se dedicar aos estudos geográficos, tornando-se um dos grandes nomes dessa ciência.

Como vimos a pouco, a derrota de 1870 leva a França a uma política de promoção da Geografia que começa pelo ensino primário e secundário, seguido pelo seu desenvolvimento nas universidades e pela política de incentivo à criação de instituições geográficas. Vidal vai saber tirar proveito dessa situação.

Em 1875, é nomeado conferencista de Geografia da Universidade de Nancy; em 1880, torna-se subdiretor da Escola Normal Superior onde fica até 1898, ano em que vai para a Sorbonne.

Vidal foi um professor irrepreensível e um viajante incansável. Conheceu muito bem a França e a Europa, assim como boa parte do norte da África e da América do Norte. Produziu uma obra pouco volumosa, mas muito densa. Formou e incentivou os jovens que estavam à sua volta e que em boa parte se transformaram em grandes geógrafos.

Vidal, mesmo sendo original, nunca escondeu o quanto foi devedor aos mestres alemães, sobretudo Ritter e Ratzel.

Para ele, a Geografia deveria partir de uma idéia simples: explicar a desigual repartição dos homens sobre a superfície da Terra e suas densidades. Para tanto, deveríamos dar um tratamento cartográfico aos dados e considerar na análise os sinais expressos pela paisagem e a relação dos assentamentos humanos com o solo.

A geografia de Vidal de la Blache

Veremos aqui quatros aspectos importantes da Geografia vidaliana – a ideia de totalidade, a questão das densidades e do trabalho de campo, os gêneros de vida e o possibilismo. Na aula seguinte, veremos especificamente a sua noção de região.

A influência de Ritter: a ideia de totalidade

Vidal toma como ponto de partida para as suas reflexões geográficas a idéia de totalidade desenvolvida por Ritter, entretanto, ele vê nessa idéia um convite para a análise de relações complexas e das conexões entre os diversos fenômenos e não um chamamento à reflexão sobre o destino do mundo e da humanidade, como era a preocupação de Ritrter. Veja no texto a seguir um trecho do próprio Vidal sobre esse ponto.

Os mapas de densidade e o trabalho de campo

Um dos pontos importantes para os estudos da Geografia vidaliana eram as cartas de densidade. Para ele, essas cartas colocavam o problema fundamental de toda a Geografia humana: aquele das relações que os grupos humanos estabelecem com os lugares onde vivem e com o seu entorno.

Dessa forma, a Geografia deve analisar e explicar as relações entre os grupos humanos e o meio ambiente onde moram. Nesse sentido, a tarefa mais importante dela é estudar e explicar os mapas de densidades, porque eles dão uma ideia clara dessas relações.

A prática vidaliana do trabalho de campo é indissociável de suas pesquisas e de sua compreensão de Geografia. O campo, em certa medida, deve substituir o livro, o texto e, até mesmo, o arquivo histórico. Ele adquire um valor heurístico fundamental, visto que constitui o substrato no qual se lê a relação homem/meio e que vai se transformar na problemática explícita da Geografia humana francesa. Assim sendo, as manifestações elementares da vida, as formas de trabalho, de deslocamentos, de habitat, de vestuário, observados no campo, são consideradas como sinais das interações entre as sociedades locais e o meio.

O gênero de vida

Ao abordar a relação entre o meio e a ação humana, Vidal de la Blache, considerava que o meio é uma força viva, que tem movimento próprio e regras de conexão que escapam à intervenção humana. Por outro lado, a ação do homem tem grande capacidade de transformação. O conjunto das ações e as formas através das quais os homens tiram proveito das possibilidades oferecidas pela natureza é dada pela diversidade dos gêneros de vida. A noção de gênero de vida permite à análise geográfica vidaliana compreender as relações que os homens tecem com o seu meio. Relações que são estabelecidas pelas técnicas, pelasformas de trabalho, pelas formas de habitação, pela cultura etc.

No seu entendimento, como os grupos humanos, necessariamente, têm que se adaptarem (se defrontarem, estabelecerem relações com as condições ambientais), essa adaptação se traduz na adoção de um modo de vida, de um gênero de vida: caça, pesca, criação de bovinos, ovelhas, suínos, cavalos, agricultura etc.

O estabelecimento do gênero de vida seria a ação humana destinada a extrair do meio ambiente o que se necessita para comer, vestir-se, proteger-se do vento, da chuva, do frio e a forma como dispor de ferramentas diversas. O gênero de vida aparece como um conjunto de técnicas e hábitos.

Para o mestre francês, a adaptação de um grupo humano a um meio ambiente específico dependia:

1. das técnicas produtivas e da possibilidade de inventar novas técnicas;
2. da capacidade da tradição em transmitir, para gerações futuras, as técnicas produtivas;
3. das técnicas de transporte e da possibilidade de desenvolver trocas com grupos de localidade diversa;
4. da força do hábito.

O possibilismo

O possibilismo é comumente reduzido à seguinte ideia: a natureza propõe, o homem dispõe. Esta é, sem dúvida, a noção mais conhecida para definir a abordagem das relações homem/meio da escola francesa de Geografia e, em particular, de seu fundador Paul Vidal de la Blache. No entanto, o autor desse neologismo não é Vidal de la Blache e sim o historiador Lucien Febvre, em seu livro A terra e a evolução humana. Nesse livro, Febvre, inspirado nas elaborações de Vidal de la Blache, faz deste a referência para os “possibilistas” em oposição aos “deterministas” e se arroga o papel de encarnar o espírito da escola francesa de Geografia.

O possibilismo constituiria-se, assim, numa alternativa ao determinismo do meio físico na análise das relações que o homem mantém com esse meio. O possibilismo é a rejeição à ideia de que o homem é, antes de tudo, passivo, submisso às condições locais e constrangido a se adaptar.

Na análise vidalina a compreensão das relações homem/meio se dá em toda sua complexidade, dando relevante atenção às iniciativas humanas transformadoras da natureza. Sua posição é frontalmente anti-determinista, ou seja, contrário ao determinismo, mas considera que o homem sofre influências do meio no sentido de que existe uma diferenciação natural frente à qual o homem se depara e que em cada meio dado a natureza apresenta um conjunto de possibilidades, com limites próprios e que é em função dos dados históricos, culturais e técnicos que algumas dessas possibilidades serão exploradas pelos seus habitantes.

Uma individualidade geográfica não resulta da simples consideração da geologia e do clima. Isso não é uma coisa dada de antemão pela natureza. É preciso partir da ideia de que uma região é um reservatório onde dormem energias na qual a natureza depositou o germe, mas cujo emprego depende do homem. É ele quem, ao submetê-las ao seu uso, traz à luz sua individualidade. Ele estabelece uma conexão entre os traços dispersos; aos efeitos incoerentes de circunstâncias locais ele substitui um concurso sistemático de forças. É só então que uma região se precisa e se diferencia e transforma-se, por extensão, numa medalha cunhada à esfinge de um povo. (VIDAL DE LA BLACHE, 1979, p.8)

Região (La Blache)

A questão regional é uma das mais tradicionais em Geografia, sendo a região um conceito-chave dessa ciência. Entretanto, trataremos, nesta aula, apenas da concepção de região elaborada por Vidal de la Blache. Isso porque é esse geógrafo a maior expressão da chamada Geografia regional. Como vimos na aula 10 (A Geografia vidaliana e o seu contexto), até Vidal de la Blache, a Geografia não se constituía num ramo autônomo do conhecimento, é com ele que atinge status de ciência na França. Ele é um pensador do possível, das diversas possibilidades que o homem tem diante do imperativo de habitar a Terra. Procurou salientar a importância da vinculação entre o geral e o particular e a complexidade das entidades (regiões) geográficas, para tanto, desenvolve a ideia de unidade terrestre. Considerava fundamental para análise geográfica a diferenciação da superfície terrestre, das sociedades e a compreensão de como estão articuladas, ou seja, como as diversidades dos lugares se expressam numa determinada organização espacial.


A evolução do pensamento regional vidaliano
Apoiando-se, por um lado, nos resultados obtidos pelos geólogos e, por outro, em sua formação essencialmente de historiador, Vidal concebe o espaço dos países como sendo a combinação da história do solo e a história dos homens.

Partindo de quadros naturais – geologia, geomorfologia, vegetação relevo, clima, hidrografia –, ele mostra como a geologia e o clima oferecem uma série de possibilidades, cujo emprego depende dos homens, e que é o grupo humano que, ao fazer uso da natureza, diferencia uma região “transformando a sua extensão numa medalha cunhada como a esfinge de um povo” (VIDAL DE LA BLACHE, 1979, p.8). Para Vidal, cabe ao geógrafo explicar e compreender a lógica interna de cada fragmento da superfície terrestre revelando sua individualidade, cuja réplica exata não se encontra em nenhuma outra parte. É atribuição do geógrafo estudar a organização de cada espaço diferenciado e individualizado.

Desde 1889, Vidal propõe uma primeira concepção das “divisões fundamentais do solo francês”. Quinze anos de reflexão sobre o tema o levam à elaboração de seu mais famoso livro Tableau de la géographie de la France (Quadro da Geografia da França), em 1903, no qual ele apresenta um espaço hierarquizado em graus diferenciados. No entanto, o ponto de partida permanece sendo a “região natural”, apoiada na geologia, no relevo ou no clima – Bassin parisien, Massif Central, Midi océanique. Essas regiões se diversificam em unidades mais reduzidas e são compreendidas segundo aspectos históricos, em função de elementos políticos e de desenvolvimento econômico – as rotas – ou em função de elementos oriundos do raio de influência de uma cidade.

Por sua vez, tais regiões se revestem de aspectos e traços bastante diferenciados, cuja originalidade se exprime numa certa fisionomia, num estilo particular de organização espacial engendrada pelo casamento entre a natureza e a história. Essa fisionomia é o que nós chamamos hoje de paisagem.

O método regional

Vidal se interessa muito pelas realidades geográficas extensas: nações ou grandes zonas geográficas, como o Mediterrâneo. Se ele efetua recortes regionais, é para melhor compreender a natureza das entidades que lhe interessam. Seu método repousa sobre uma incessante dialética das escalas. Para ele, essa dialética se realiza quando analisa a situação dos lugares ou de pequenos conjuntos territoriais: pontos ou áreas mais ou menos extensos. A outra vertente dessa dialética das escalas procede de modo inverso, indo das grandes áreas naturais, das nações, das grandes regiões em direção aos “pays”, ao local. Essas operações de regionalização que “revelam” componentes que existem no seio de um grande espaço o apaixonam.

Quando os critérios de partição são mudados, a forma do recorte toma toda sua amplitude. É o que torna a démarche regional insubstituível no pensamento vidaliano. Ela revela, assim, a complexidade dos objetos estudados quer se trate de nações, de grandes espaços, ou do estudo do local.

Para descrever a França, Vidal utiliza sucessivamente várias perspectivas: ele a recorta em regiões naturais (1988); analisa conjuntos onde se desenvolvem formas de sociabilidade originais, mas que têm na França a particularidade de se completar (VIDAL DE LA BLACHE, 1979); faz um inventário dos pequenos “pays” e das paisagens agrárias (VIDAL DE LA BLACHE, 1904). Retornando dos Estados Unidos, se volta para a análise com base nas grandes cidades, nas zonas de influência que elas talham no seio do território nacional (VIDAL DE LA BLACHE, 1993).


Nesse sentido, a démarche regional vidaliana não pode ser concebida de maneira estática, uma vez que é dinâmica. Abrindo vários flancos, ela permite envolver na análise a natureza, a natureza humana, a cultura e todo o conjunto complexo de “objetos e de ações” que constituem a tessitura do território.


Referências;

Introdução à ciência geográfica: geografia / Aldo Dantas, Tásia Hortêncio de Lima Medeiros. – Natal, RN: Volumes 03 ao 08: EDUFRN, 2008.

Um comentário:

  1. interessante muito interessante mesmo gostei valeu apena ler boa parte claro que eu não terminei de ler todo em breve lerei/ aqui tem informações que eu mesmo não sabia como uma amante da geografia que sou confesso que fiquei deslumbrada por tal conhecimento da geografia parabéns nossa estou pasma com tudo isso e o tanto de informações que obtive

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