A
geografia na antiguidade
Quando começam as indagações
geográficas?
Os primeiros indícios de uma
preocupação com a distribuição dos fenômenos surgiram desde os primórdios da
humanidade. Nesse período, o homem pouco modificava a natureza, uma vez que
estava muito subordinado às condições naturais o que, provavelmente, lhe impunha
uma condição de nômade. Essa condição se exprime no constante deslocamento à
procura de meios de subsistência ou em atividades guerreiras e condiciona a uma
necessidade de conservar informações sobre os caminhos percorridos e as suas
direções.
Dessa maneira, surgem os
primeiros esboços representando a superfície da Terra, isto é, os primeiros
mapas. Você pode confirmar essa informação perguntando a qualquer pessoa, mesmo
aquelas que não sabem ler, qual o melhor caminho para ir a um lugar. Ela será
capaz de fazer um esboço, mostrando o caminho a seguir, os fatos mais
importantes que existem ao longo do percurso e os principais obstáculos. Há
mesmo quem diga que fazer mapas é uma aptidão inata do ser humano.
Desde a Antiguidade, a
cartografia tem grande importância. O mapa mais antigo de que se tem notícia
data de 2500 a.C. e é uma representação de um rio, provavelmente o Eufrates, com
uma montanha de cada lado desaguando por um delta de três braços.
Nesse período, a concepção
existente era de uma Terra plana, com a forma de um disco e constituída por uma
massa flutuante na água, com a abóbada celeste por cima.
A expansão política, comercial
e marítima dos povos do mediterrâneo (Mesopotâmia, Fenícia, Egito) levou à
elaboração de mapas marítimos e, sobretudo, à descrição de lugares e de povos.
Tais descrições eram denominadas de périplos.
O périplo mais antigo data
do século VII a.C. e foi feito por marinheiros fenícios a serviço do faraó
egípcio.
A palavra geografia
(descrever a Terra) foi criada pelos gregos, povos que originalmente vão se
preocupar com a sistematização desse conhecimento.
O primeiro mapa grego de que
se tem notícia foi elaborado por Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.), que
viajou e escreveu relatos das suas viagens. Discípulo de Tales de Mileto, é
provável que Anaximandro de Mileto tenha sido o inventor do gnómon,
instrumento que serve para medir a altura do Sol.
O segundo mapa da
Antiguidade foi elaborado por Hecateu de Mileto (560-480 a.C.).
Viajou por toda parte do
mundo conhecido, escreveu a Descrição da Terra, obra ilustrada por um mapa onde
a Terra é representada por um disco com água em sua volta.
Outros documentos
importantes dessa época são os poemas épicos Ilíada e Odisseia, de Homero,
conhecidos e apreciados por seu valor literário e pelas informações geográficas
contidas na descrição dos lugares distantes e das longas viagens marítimas.
Os
dois pontos de vista da Geografia
Você deve ter percebido, até
aqui, que duas são as preocupações que fundamentam os conhecimentos geográficos
desse período. Um está relacionado com a física terrestre – forma, dimensão,
posição sideral. A outra, com a descrição das diferenças da constituição da
superfície terrestre e com as diversas culturas que nela se instalam. Essas
duas dimensões dão origem a dois pontos de vistas: o da Geografia Geral e o da
Geografia Regional.
Dois
“geógrafos” gregos
Ø Erastóstenes (276-194
a.C.) – Além de demonstrar a existência da curvatura da Terra e calcular suas
dimensões com notável precisão, também localizou mares, terras, montanhas, rios
e cidades no primeiro sistema de coordenadas geográficas, no qual estavam
presentes as latitudes e as longitudes. Estudou, ainda, questões relativas à
hidrografia e à climatologia, às zonas climáticas e às cheias dos rios,
notadamente aquelas relativas ao Nilo. Contudo, os níveis de generalização
traziam consigo margens de erros consideráveis, fortalecendo a abordagem
regional.
Ø Heródoto
(484-425 a.C.) – Filósofo e historiador, considerado o pai da História e da Geografia,
inseriu a história dos povos no contexto geográfico. Suas crônicas registram a
gênese da Geografia Regional e retratam os mais diferentes e distantes países.
São conhecidas suas viagens à Fenícia, ao Egito e à Babilônia. Ao estudar as
cheias do rio Nilo, Heródoto associou a sua desembocadura à letra grega delta,
razão pela qual é encontrada até os dias atuais a foz em delta nos livros
escolares.
Dois
“geógrafos” romanos
Ø Estrabão (64
a.C – 20 d.C) – Grande enciclopedista destaca o caráter filosófico e
transdisciplinar da Geografia. Em sua obra, afirmava que o amplo conhecimento, necessário
ao empreendimento de qualquer trabalho geográfico, deve estar relacionado tanto
com as coisas humanas como divinas, conhecimento que constitui a Filosofia.
Ao contrário dos gregos,
interessava-se por uma abordagem mais humana, cujos ensinamentos destinavam-se
às ações de governo. Além do mais, ensinava que os geógrafos não deviam
preocupar-se com o que estava fora do mundo habitado. Assim como Heródoto,
Estrabão foi um grande viajante, tendo descrito no seu livro várias partes do
mundo daquela época. Por tal feito, é, ainda hoje, considerado um dos mais importantes
geógrafos da Antiguidade. Estrabão tinha como metodologia geográfica a localização
e delimitação dos aspectos físicos de uma região seguidas da descrição da população,
com suas lendas, costumes e atividades econômicas.
Ø Ptolomeu (90
– 168 d.C.) – É o último grande geógrafo da antiguidade, foi também astrônomo e
matemático. Interessou-se pelas técnicas de projeção cartográfica e elaboração
de mapas. Em sua obra Geographia, de 8 volumes, traz os princípios de construção
de globos e projeções de mapas, indica os princípios da Geografia, Matemática e
da cartografia, além de organizar um grande vocabulário com todos os nomes de
8000 lugares que conhecia, localizando-os por meio da latitude e da longitude.
A
Geografia na Idade Média
Quadro geral do sistema feudal
A obra de Ptolomeu, encerra
a primeira etapa da Geografia. A própria riqueza que essa obra produziu por meio
de uma ampla sistematização e o método de documentação que preconizou mantiveram-se
durante muitos séculos presentes no pensamento geográfico. Como Aristóteles
para a Filosofia, Ptolomeu será, até o Renascimento, a autoridade inconteste em
matéria do conhecimento da Terra e do sistema Mundo. E, desse modo, a Idade
Média é, para a Geografia, um período de estagnação e mesmo de retrocesso do
conhecimento produzido por essa ciência.
A queda do Império Romano e
a difusão do Cristianismo dão início a esse novo momento da história da
humanidade, instalando um processo de fragmentação na produção do conhecimento
científico e geográfico. As causas para essa fragmentação podem ser encontradas
no contexto social, econômico e religioso daquela época.
As invasões bárbaras vão
provocar uma situação de guerra generalizada em boa parte do espaço europeu
ocupado pelo Império Romano. Tal situação irá provocar na Europa consequências
importantes que levaram ao isolacionismo espacial das sociedades e à instauração
do sistema feudal, conforme você pode perceber na passagem a seguir.
O
fervor intelectual que havia favorecido a reflexão sobre a forma e a configuração
da Terra desapareceu. O Estoicismo deixou de apoiar-se na hipótese geocêntrica
e na imagem de um mundo harmonioso que daí emanava. A deslocação progressiva da
administração tornou inúteis os levantamentos de informações tão procuradas na
época de Augusto. As formas de construção social que triunfaram na Idade Média
assentam em relações pessoais: é através de notáveis locais que o poder se
exerce à distância; como tal, não é necessário formalizar o saber geográfico
nesta sociedade: o conhecimento das pessoas é suficiente. (CLAVAL, 1996, p.
17-8).
A Europa que daí surge está
dividida em uma série de pequenas áreas politicamente diferenciadas, deixando
de existir uma política uniforme sobre todo o território.
Veja que a desarticulação dos
sistemas de comunicação ligada ao fato de a Europa se encontrar relativamente
despovoada dificultava o deslocamento de pessoas e a troca de ideias e de bens
entre suas diferentes áreas.
O sistema que se constitui é
essencialmente isolacionista e tenta resolver seus problemas a partir da
auto-subsistência do próprio feudo, prejudicando a mobilidade de pessoas, as
trocas e a ampliação do horizonte geográfico que se verificou na Antiguidade
.A
influência da Igreja
Nesse período, a Igreja
Católica representa o maior poder europeu associada às diversas aristocracias,
uma vez que se constitui na única instituição com influência sobre todos os
feudos. Dessa maneira, as respostas para as questões da vida cotidiana, individual,
social e políticas passaram a ser dadas a partir de interpretações bíblicas.
É claro que o homem continua
se perguntando sobre as questões geográficas. Entretanto, indagações sobre
“como” e “onde” continuam a ser feitas, só que agora as respostas são buscadas
nas ordens religiosas e não nas cosmologias, como era mais comum anteriormente.
A Bíblia era um instrumento que continha referências cosmológicas e
geográficas, as quais davam respostas a tais perguntas. Veja que, no fundo, é a
Igreja e não a ciência que busca respostas para indagações da realidade
sócio-espacial.
Vale destacar que nesse
período ocorre certo imobilismo populacional e uma diminuição dos eventos das
viagens e, com isso, um maior desconhecimento do mundo real. Esses fatores aliados
ao poder da Igreja provocam a diminuição da busca de respostas nas ciências.
“Era natural que em um período de lutas constantes houvesse grande dificuldade
de comunicação e uma queda no ritmo do comércio e nas preocupações filosóficas
e, consequentemente, um retrocesso do conhecimento na Europa Ocidental”.
(ANDRADE, 2006, p. 46).
Nem
tudo foi sombra na Idade Média
Se por um lado o
conhecimento declinava no mundo ocidental “em outras áreas, porém, a formação
de Estados fortes e a intensificação das viagens e do comércio permitiram que
as tradições culturais gregas e latinas se integrassem com a de povos do
Oriente e houvesse maior difusão cultural” (ANDRADE, 2006, p.46). Aqui um fator
merece destaque: a expansão Árabe-Muçulmana.
A
expansão Árabe-Muçulmana
A civilização
Árabe-Muçulmana emerge depois da queda de Roma e se baseia na nova e vigorosa
religião do Islã. Surgida no século VII, seu fundador foi Maomé (570-632), um próspero
mercador da cidade de Meca.
Maomé acreditava ter visto o
anjo Gabriel que lhe ordenou “recitar em nome do Senhor”. Tomado por essa
visão, Maomé se considera o escolhido e se transforma em profeta.
Nesse período, a maioria do
povo árabe acreditava em deuses tribais, entretanto, nosgrandes centros, a
maioria da população já havia tomado conhecimento do Judaísmo e do Cristianismo,
o que facilitou a aceitação de um Deus único anunciado por Maomé.
Os padrões islâmicos de
moralidade e as normas que regulam a vida cotidiana são fixados pelo Alcorão,
que os muçulmanos acreditam conter a palavra de Alá, revelada a Maomé. Para
eles, o Islã é o aperfeiçoamento do Judaísmo e do Cristianismo e reconhecem Jesus
como um grande profeta, mas não divino.
Maomé unifica as tribos
árabes, envolvidas em constantes disputas, através da difusão da fé islâmica.
Entre os séculos VIII e IX,
a civilização muçulmana conhece o seu apogeu. Enquanto o conhecimento estava em
baixa na Europa ocidental, os muçulmanos desenvolviam grandes conhecimentos
embasados nas realizações dos gregos antigos através da tradução de obras gregas
para o árabe.
Com as suas conquistas, o
império árabe estende-se desde a Espanha até a Índia e foi unificado,
principalmente, pela fé. Por volta do século XI, começam a perder seu domínio.
Texto;
O
Império Muçulmano dominava uma área muito vasta, desde o Afeganistão até o
Atlântico, com exceção da Itália, França, Turquia e Bálcãs. Devido a problemas
de ordem militar e administrativa (tal como nos Impérios Grego e Romano),
surgiu a necessidade de conhecer o mundo. Ao mesmo tempo surgia também a
necessidade religiosa de viajar, na medida em que todo mulçumano tem de ir a
Meca, pelo menos uma vez na vida. Assim, as viagens e o comércio sofreram um
novo impulso. A geografia verificou um novo avanço. Entre os viajantes árabes
destacam-se Al-Biruni, Al-Idrisi (1099-1164) e Ibn Battuta, que escreveram
extensos e valiosos relatos sobre as regiões por onde viajavam. Idrisi, ao
serviço do rei da Sicília, desenvolveu a escola de Palermo e pode elaborar o
mapa árabe mais completo que se conhece.
Por
outro lado, os monarcas muçulmanos promoveram as ciências e as artes. Foi
traduzida para o árabe a obra de Ptolomeu e desenvolveu-se a geografia, a astronomia,
a astrologia, a matemática e a geometria.
Apesar
disso, o conhecimento e as descrições geográficas produzidas são muito imprecisas
e as localizações pouco rigorosas. Os Árabes não se serviam da latitude e da
longitude para localizar os lugares à superfície da Terra e elaborar mapas. A
latitude e a longitude são utilizadas pelos astrônomos (considerados, aliás,
como os melhores do mundo) nas suas observações, mas quem faz os mapas são os
geógrafos, que não se servem dos dados astronômicos. Surge, assim, no mundo
árabe uma separação entre geógrafos e astrônomos que não existia na Antiguidade
(FERREIRA; SIMÕES, 1990, p. 48-49).
Os
tempos modernos
O
Renascimento
O Renascimento foi um dos
mais importantes momentos de inflexão (mudança de direção) da história do
ocidente e significa uma ruptura entre o mundo medieval, caracterizado como uma
sociedade agrária, estamental, teocrática e fundiária, e o mundo moderno,
caracterizado pela urbanização, pelo modo burguês de pensar e, principalmente,
por se caracterizar como uma sociedade de trocas.
O Renascimento vai do século
XV ao XVII. Neste momento ocorrem significativas mudanças. Na Europa, estas
mudanças estão na origem do que viria a ser o mundo contemporâneo.
Como vimos na aula anterior,
a Europa, da Idade Média, é uma sociedade relativamente estável e fechada. Mas,
esse período inicia grande processo de abertura e expansão comercial e
marítima.
A identidade das pessoas, de
forte vinculação com o clã (tribo constituída de varias famílias subordinadas a
um chefe hereditário) com a propriedade fundiária, passa a ter como referência
o nacionalismo e o cultivo da própria individualidade.
O homem vai tornando-se, ao
poucos, o centro das preocupações, possibilitando paulatinamente a instalação
de mentalidade laica (o que se opõe à eclesiástica), a qual vai se desligando
do sagrado e das questões transcendentais tão características da Idade Média.
Essas mudanças afetaram
todas as esferas sociais. Na esfera econômica, o comércio e a manufatura
tiveram grande expansão e o capitalismo substitui amplamente as formas medievais
de organização econômica. Na esfera política, o governo central torna-se mais e
viabiliza a consolidação do Estado, nova forma de governar. Na esfera
religiosa, veremos a ascensão do protestantismo. Na esfera social, surge o que
hoje chamamos de classe média, que assume um papel importante no campo da
política e da cultura. Na esfera cultural, o clero perde o monopólio do ensino
e a teologia cede lugar à ciência na explicação do mundo.
A sociedade renascentista é
uma sociedade fascinada pela vida da cidade, pelo comércio e pelos prazeres
terrenos. A ideia de viver bem neste mundo passa a rivalizar com a promessa do
paraíso.
Ao se afastarem da
orientação religiosa predominante na Idade Média, a sociedade que daí emerge
vai discutir a condição humana na sua relação com o mundo, abrindo, assim, novas
possibilidades de reflexão sobre questões políticas e morais.
Note que nesse processo de
transição do medieval para a modernidade o mundo vai tornando-se cada vez mais
laico e independente da tutela da religião e o homem vai sendo levado a pensar
e analisar a realidade que o cerca em toda a sua objetividade e não como resultado
da vontade divina.
Perceba que neste momento
aparecem novas instituições políticas e sociais – nações, estados, novas
legislações, novas classes sociais, exércitos etc. – o que implica também numa
nova maneira de pensar a vida social, a história e a geografia.
As cidades ganham vida,
atraindo pessoas de diferentes lugares dispostas a conquistar um espaço no
mundo, a competir e a enriquecer. A cidade vai transformar-se também no lócus
de sustentação do desenvolvimento do capitalismo, inaugurando também uma nova divisão
social e territorial do trabalho (trataremos melhor desse assunto na aula seguinte,
na qual veremos as consequências espaciais de toda essa transformação).
O
Iluminismo
Mais que um movimento, o
Iluminismo foi um modo de pensar. Falando de modo geral, foi uma consequência
da “revolução científica” do final do século XVII, que havia transformado a
concepção que a maior parte das pessoas instruídas tinha a respeito do mundo
habitado.
Como vimos a pouco, o
Renascimento inicia o movimento de transição da sociedade medieval para o
capitalismo moderno. Sistema econômico voltado para a produção concentrada de
bens, para a troca, para a expansão comercial, para a circulação crescente de
mercadorias e para o adensamento populacional. Perceba que é um sistema que
demanda constantemente ajustes e ordenamento espacial (veja a aula 6 – Espaço e
modernidade).
Essa sociedade que emerge é
individualista e financista. Voltada para expansão comercial e busca do lucro,
ela engendra novos valores e atitudes que passam a reger o comportamento
social. Veja que a nova sociedade mexe de maneira radical com a estruturação espacial:
expansão significa busca e dominação de novos territórios; produção concentrada
exige deslocamento de população e novo papel para as cidades; circulação
demanda vias de comunicação e de fluxos, dando origem a redes urbanas
hierarquizadas.
O
desenvolvimento científico
Essas novas condições
fizeram do comércio a principal atividade motora da sociedade que daí emergia.
Para esse fim, organizavam-se viagens internacionais e faziam-se guerras nas
quais eram disputadas as melhores rotas comerciais, as fontes de produtos e
matérias-primas e a clientela. As grandes navegações ocorreram nesse cenário.
A valorização e
intensificação das trocas, a descoberta de novas rotas e do desenvolvimento das
redes urbanas, e a possibilidade, cada vez maior, de se auferir lucro repercutiram
no estímulo à produção. Tornava-se urgente produzir mais e em condições capazes
de responder à demanda que se tornava cada vez mais intensa.
Esse quadro passa a exigir
dos produtores uma outra racionalidade e, principalmente, planejamento. Além
disso, a intensificação e ampliação dos mercados requerem um desenvolvimento
tecnológico que acompanhe os novos ritmos da produção em larga escala para um
mercado que já se reveste de tendências mundiais.
Perceba que nesse caso estão
dadas as condições para o desenvolvimento tecnológico voltado para a invenção e
produção de máquinas que potencializasse a produção e o barateamento dos
produtos. Isso provoca um verdadeiro corre-corre por engenhos tecnológicos.
O planejamento, a
racionalidade e o desenvolvimento da pesquisa científica vão, aos poucos, sendo
disseminados visando à produção, e também vão se disseminando na vida cotidiana.
Essa turbulência provoca a
curiosidade dos homens no sentido da busca do entendimento dos mecanismos que
regulam o mundo circundante, ou seja, o homem da modernidade procura
compreender os mecanismos da vida e da natureza.
Com a saída sistemática de
populações do campo em direção à cidade, o interesse pela produção agrícola
tornou-se iminente dado que, pela primeira vez na história, dever-se-ia produzir
para um contingente de produtores não primários. Essa preocupação manifesta-se numa
verdadeira revolução agrícola que buscava aumentar a produção e a produtividade
de alimentos. E esse movimento somente foi possível porque junto com a
revolução agrícola vieram também a revolução científica, tecnológica e
industrial.
As
grandes navegações
Imagine que, diante do
quadro apresentado até aqui, os interesses econômicos e de expansão
manifestavam-se de forma nunca vista na história. São esses interesses que vão
provocar, entre os séculos XVI e VXII, o ingresso da Europa Ocidental numa era
de agressiva exploração ultramarina e expansão econômica que transformará em
definitivo o mundo em que vivemos. Os exploradores europeus descobriram um novo
caminho para a Índia, fazendo o contorno do continente Africano. Conquistaram,
colonizaram e exploraram a América, o que provocou um extraordinário aumento
nas atividades mercantis e no suprimento monetário, promovendo o
desenvolvimento do capitalismo.
A
institucionalização da Geografia
A gênese da Geografia
moderna
A constituição da Geografia
enquanto saber científico sistematizado e institucionalizado é fruto de um
processo lento que tem por base fatores diversos no que se refere aos fenômenos
históricos e estruturais relacionados a determinado grau de desenvolvimento material
das sociedades e às ideias a eles vinculadas, ou seja, o desenvolvimento da
Geografia (assim como de todas as outras ciências) prescinde do desenvolvimento
da vida material e do pensamento filosófico-científico.
Dessa forma, a Geografia
moderna, em seu nascedouro, necessitou de uma série de condições históricas
para poder se tornar realidade.
Podemos dizer que a grande
revolução para o conhecimento geográfico começa a ser preparada a partir da
extraordinária expansão do espaço conhecido, do domínio da configuração da
Terra e do desprezo às ideias e crenças a respeito da superfície terrestre que vem
com a Idade Moderna. Mas, para que a Geografia desponte como um saber autônomo,
particular, faz-se necessárias ainda certas condições que só estarão
suficientemente amadurecidas no século XIX.
Pressupostos
para o surgimento da Geografia moderna
Como vimos anteriormente, a
institucionalização da Geografia dependeu tanto de fatores externos quanto de
fatores de ordem interna à lógica do conhecimento científico em geral. Vimos
também que o desenvolvimento dessa lógica está intimamente ligada ao processo
mais amplo de desenvolvimento histórico da humanidade.
Em se tratando
especificamente da institucionalização do conhecimento geográfico moderno, que
é o nosso caso, podemos dizer que quatro ordens de fatores ou pressupostos fundamentais
contribuíram para a erupção da sistematização da Geografia como ciência:
a)
o efetivo conhecimento do planeta (alargamento do horizonte geográfico,
ampliação do ecúmeno – áreas da Terra habitadas pelo homem);
b)
acúmulo de informações sobre os diferentes lugares;
c)
aperfeiçoamento das técnicas cartográficas;
d)
desenvolvimento do conhecimento científico-filosófico.
O conhecimento efetivo da
extensão real da Terra é um pressuposto fundamental para a emergência da
Geografia moderna e as condições materiais para a realização de tal conhecimento
encontram-se na expansão europeia que se concretiza através das grandes navegações
e descobertas e na constituição de um espaço mundial de relações.
O conhecimento efetivo da
extensão real da Terra é um pressuposto fundamental para a emergência da
Geografia moderna e as condições materiais para a realização de tal conhecimento
encontram-se na expansão europeia que se concretiza através das grandes navegações
e descobertas e na constituição de um espaço mundial de relações.
No século XIX, a
constituição de um espaço mundial já é uma realidade efetiva e consolida
definitivamente aquele processo que se inicia com as primeiras evidencias de
decadência do sistema feudal, ou seja, no século XIX, com a Revolução
Industrial, o Capitalismo está consolidado. Essa consolidação atua de forma
decisiva no processo de reafirmação das relações mercantis de produção que, ao
se articular em escala planetária, estende a influência das sociedades
europeias em todo o globo.
Preste atenção, também, ao
fato de que a constituição de uma economia mundial desembocou numa exploração
colonial, pois esse processo de expansão econômica exigiu uma necessária
apropriação e submissão de novos territórios e sua incorporação ao sistema
produtivo.
Se você retomar a leitura da
aula 2 (A ação humana), verá que esse processo se baseia, pelo menos, em dois
elementos fundantes da Geografia: apropriação e exploração.
A apropriação desses novos
territórios ocorre de forma lenta e vai, paulatinamente, fragmentando os modos
de vida locais, promovendo novos ordenamentos e “ajustes espaciais”. Além
disso, coloca o europeu expansionista em contato com realidades espaciais bastante
diversas da sua. Para ter o conhecimento dessas novas realidades particulares e
de suas localizações (lembre-se de que localização e nomeação dos lugares são
elementos constitutivos do saber geográfico, veja aula 1), o levantamento de
informações sobre esses lugares singulares torna-se imprescindível.
O
acúmulo de informações
Como vimos, os grandes
descobrimentos dão origem a um conhecimento cada vez mais apurado da realidade
do planeta, fator primordial para o surgimento de uma Geografia moderna. Junto
a esse conhecimento, faz-se necessária a sistematização de informações sobre os
diferentes pontos da Terra, ou seja, sobre os diferentes territórios que vão
sendo incorporados às relações mercantis.
A descoberta de novas terras
torna possível a expansão das relações capitalistas. A apropriação e
incorporação de novos territórios exigem, como já foi dito, o conhecimento de realidades
distintas entre si e distintas do quadro europeu de referência.
Assim, a exploração colonial
demanda o levantamento constante de informações que vai sendo feito de forma
criteriosa, dando origem a grande acervo de dados.
O acúmulo de informações é
primordial nesse momento de expansão, uma vez que o “mundo”, tal qual o
conhecemos hoje, está sendo descoberto e apropriado (dominado) e do qual se tem
poucas informações. Além disso, conhecer e localizar detalhadamente os
diferentes lugares é uma tarefa demandada pela própria necessidade de
realização da expansão capitalista que, para aumentar seu domínio e fortalecer
suas atividades nos territórios colônias, necessita de informação.
A
cartografia
O avanço e aprimoramento da
cartografia (instrumento por excelência geográfico) se constituem efetivamente
num outro pressuposto da Geografia moderna. Esse avanço na linguagem
cartográfica é uma demanda primária e uma exigência prática para o pleno desenvolvimento
das relações comerciais que requer o estabelecimento preciso de rotas de navegação,
assim como a localização exata dos lugares e portos.
O tráfego terrestre também
se amplia em função da regularidade crescente das trocas e do atendimento de distâncias
maiores a serem percorridas.
É a economia “global” que
emerge, articulando regiões diferentes e distantes e demandando a confecção,
cada vez mais detalhada, de mapas confiáveis que facilitem o deslocamento mais
rápido e seguro dos meios de transporte, os quais também sofrem grande desenvolvimento
nesse período. Mapas mais confiáveis propiciam ainda o conhecimento e a
extensão real das colônias.
A técnica de impressão,
recém-descoberta nesse período, populariza o instrumental cartográfico que vai se
juntar às descrições dos viajantes naturalistas do século XVII, dando-lhes cunho
mais geográfico.
Assim,
dos relatos ocasionais e intuitivos dos exploradores e aventureiros passa-se,
com a evolução da própria empresa colonial, às descrições ordenadas e imbuídas
do espírito objetivo das ciências modernas nascentes. Pode-se dizer que tal
situação, plenamente alcançada no século XVIII, é já o anteato imediato do
processo de sistematização da Geografia (MORAES, 2002, p.19)
Evolução
das ideias
O período que estamos
chamando aqui de transição do Feudalismo para o Capitalismo, que promove
grandes transformações materiais, é também marcado por um clima de grande
efervescência de ideias e de extraordinário alargamento do horizonte do pensamento
humano.
Você deve estar se lembrando
da aula 5, na qual falamos sobre a ordem feudal e sua interpretação teológica
do mundo. Essa ordem tinha como base de legitimação e interpretação dos
fenômenos a teleologia divina. Para se contrapor a essa visão, as ideias
nascentes vão se firmar sobre uma concepção racionalista do mundo na qual a
valorização e as possibilidades da razão humanas são privilegiadas em
detrimento das explicações divinas. Os últimos anos do século XVIII e os
primeiros do século XIX marcam de modo especial esse embate.
Uma nova forma de saber se
instala, configurando um novo sistema de conhecimento. Surge daí as ciências
modernas.
Essas mudanças que começam
já no século XV-XVI vão se consolidar com o projeto científico levado a cabo no
século XIX. Esse projeto tem como pontos de apoio fundamentais a razão e uma fé
generalizada no progresso.
Como já assinalamos, ao
contrário da ordem feudal, que se embasava numa visão teocêntrica (Universo e
homem são criaturas), a razão coloca o homem no centro do Universo, e a Terra e
a natureza são vistas como submissas e passíveis de apropriação generalizada
pelo homem.
A dessacralização da
natureza vai permitir a intervenção humana na ordem natural e a constituição da
ciência moderna, entre elas a Geografia. O pensamento científico passa a ter nessa
concepção um papel fundamental. E é através da possibilidade de intervenção
racional do homem sobre a natureza e da eficácia científica que o homem moderno
cimenta sua fé no progresso.
Surge também nesse período,
que começa com o Iluminismo, uma discussão fundamental para a Geografia
moderna: as relações entre a sociedade e o meio. Montesquieu (1689-1755), por
exemplo, em O espírito das leis, dedica um capítulo ao estudo das relações natureza-sociedade.
Rousseau (1712-1778) dizia, por outro lado, que seis meses passados num lugar o
instruía mais que cem livros.
Como se vê, essa mudança de
mentalidade faz aflorar diversos temas pertinentes à Geografia (além do já
destacado), tais como: a questão da relação da sociedade com o território; a
influência do meio (especificamente do relevo e do clima) na organização social;
e as formas de governo e a extensão do território, que são temas recorrentes
entre os pensadores já referidos, como é o caso de Montesquieu e Rousseau.
A
sistematização da geografia (Prússia – Atual Alemanha)
A sistematização do
conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do século XIX. E nem poderia
ser de outro modo, pois pensar a Geografia como um conhecimento autônomo,
particular, demandava certo número de condições históricas, que somente nesta
época estarão suficientemente maturadas. Estes pressupostos históricos da
sistematização geográfica objetivam-se no processo de avanço e domínio das
relações capitalistas de produção. [...]
A especificidade da situação
histórica da Alemanha, no início do século XIX, época em que se dá a eclosão da
Geografia, está no caráter tardio de penetração das relações capitalistas nesse
país. Na verdade, o país não existe enquanto tal, pois ainda não se constitui como
Estado Nacional. A Alemanha de então é um aglomerado de feudos (ducados, principados,
reinos), cuja única ligação reside em alguns traços culturais comuns. Inexiste
qualquer unidade econômica ou política, a primeira começando a se formar no
decorrer do século XIX, a segunda só se efetivando em 1870, com a unificação
nacional. Geografia:
pequena história crítica. Fragmentos (MORAES, 1983,
p. 34/44).
Alexander
Humboldt
Humboldt (1769-1859) - Humboldt
é considerado, juntamente com Ritter, o pai da Geografia moderna. Nascido em
1769, pertencia a uma família aristocrática prussiana. Seu pai preocupou-se
desde cedo em dar uma esmerada educação aos filhos através de preceptores.
Alexandre de Humboldt recebeu precocemente uma boa formação em Economia
Política, Matemática, Ciências Naturais, Botânica, Física e Mineralogia.
Viaja para a Venezuela, onde
sobe o rio Orenoco até o Cassiquiare que faz parte da bacia do rio Negro,
afluente do Amazonas. A etapa seguinte leva-o através da Colômbia até o Equador
e ao Peru. Esse deslocamento lhe dá a oportunidade de escalar alguns dos picos mais
altos dos Andes e de medir as suas altitudes. Através desse procedimento,
observa a variação do clima com a altitude, tendo introduzido a terminologia de
quente, temperado e frio, ainda hoje utilizada. Segue para o México e depois
para Cuba. Volta à Europa após passar pelos Estados Unidos. Essa viagem durou
quatro anos e com ela recolhe uma riqueza tão grande de dados que sua
publicação leva vários anos.
Os trabalhos que decorrem de
suas viagens estão voltados para a explicação daquilo que diferencia as
diversas áreas do globo, tentando encontrar as relações que se estabelecem entre
os diversos fenômenos da superfície da Terra, de modo a produzir espaços com características
diferentes. Ou seja, interessou-se pela diferenciação espacial e considerou a paisagem
resultante da interação de vários fenômenos. Comparou as formações vegetais de
regiões diversas entre si, como foi o caso da América Latina e da Sibéria.
Tentou encontrar semelhanças
entre as culturas dos povos asiáticos e dos índios americanos. Das suas
investigações feitas em escalas diferentes (mundial, continental ou regional)
resultou uma sistematização do conhecimento geográfico. Assim, com Humboldt, a
Geografia passa a ser uma ciência sistemática. Os fenômenos poderiam ser
estudados tanto no nível mundial quanto no regional. A utilização de comparações
universais foi talvez a sua contribuição mais importante. Ele comparava
sistematicamente as paisagens das áreas que estudava com outras partes da
Terra. O seu método era empírico e indutivo. Partia dos casos particulares para
os gerais, tentando obter uma lei geral, válida também para os casos não
observados.
Humboldt foi essencialmente
um grande viajante naturalista de sua época. Ao contrário de boa parte de seus
colegas geógrafos, que permaneceram nos gabinetes, ele entende que a pesquisa
deve se iniciar no campo. Os seus conhecimentos de Mineralogia, Geologia e
Botânica permitem-lhe desvendar muitos traços interessantes nas paisagens e relacioná-los.
Em lugar de justapor informações, procura compreender como os fenômenos se
condicionam. No caso dos Andes, visto há pouco, a partir da altitude, ele
introduz um escalonamento das formas de vegetação e tipos de agricultura,
passando das terras quentes para as terras temperadas e, em seguida, para as
terras frias. Nas pesquisas de biogeografia, introduz o conceito de meio.
Para melhor compreender a
distribuição dos fenômenos geográficos, Humboldt utilizasse das observações que
faz em diferentes escalas, inaugurando a ideia de que os lugares não se
explicam em si mesmos. Foi ele o primeiro a perceber a influência das correntes
marítimas sobre os climas. Percebe isso especialmente nas costas do Peru, onde
empresta o nome a uma corrente fria que se origina no polo Sul e ameniza a
temperatura nas costas desse país. Foi ele também o primeiro a perceber os
mecanismos que regem tais correntes.
Humboldt igualmente sabe
fazer uso dos dados estatísticos, que as administrações coloniais acumulavam,
para tratar das realidades humanas da América hispânica. Em um de seus livros
(Ensaio político sobre o reino de Nova Espanha, 1811), analisa a situação calamitosa
da escravidão em Cuba.
Para Humboldt a explicação
dos fenômenos deve partir do meio, mas devemos ter sempre em mente que este
reflete realidades em outras escalas: outra marca de Humboldt.
Karl
Ritter
Karl Ritter (1779-1859) - Ritter
nasce dez anos depois de Humboldt e morre no mesmo ano em que este; teve uma
vida pouco movimentada. Enquanto Humboldt foi um grande viajante, Ritter foi um
homem que se dedicou mais à reflexão, ao magistério e ao intuito explícito de
sistematização da Geografia. Sua obra é explicitamente metodológica, vemos isso,
por exemplo, no título de seu livro mais importante: Geografia comparada.
A formação de Ritter em
História e Filosofia também difere daquela de Humboldt. Mas, a ideia de unidade
terrestre e da relação entre o lugar, a região e o todo terrestre está presente
nos dois autores. Ritter propõe o método descritivo regional e utiliza
comparação para fazer compreender as especificidades da cada país e as
configurações de sua história.
Com Ritter, a Geografia
deixa de ser uma modesta descrição da Terra e torna-se indispensável para quem
quer compreender a cena mundial, a dinâmica das civilizações e a maneira
através da qual os povos exploram o seu ambiente.
O problema essencial
estudado por Ritter é o das relações, das conexões que se estabeleciam entre os
fatos físicos e humanos. Para ele, a Terra e seus habitantes desenvolvem mútuas
e estreitas relações onde um elemento não pode ser considerado em sua plenitude
sem que se considerem tais relações. Nesse sentido, a História e a Geografia devem
estar sempre juntas.
Dessa forma, foi um
observador atento do devir histórico dos povos que habitavam em cada uma das
regiões que estudava. Entendia o espaço terrestre como o teatro da história e considerava
que quanto maior o desenvolvimento cultural maior harmonia seria estabelecida entre
o homem e a natureza.
Após a morte de Humboldt e
de Ritter, a Geografia sofre certo declínio. No entanto, mantém-se como
disciplina com grande dinamismo e se expressa por duas vias: através das
inúmeras sociedades de Geografia e a permanência como disciplina lecionada no ensino
primário e secundário. Do ponto de vista da institucionalização, os impactos de
seus ensinamentos não foram imediatos: as cátedras de Geografia permanecem
raras nas universidades e os estudantes que frequentam as suas aulas seguem
carreiras variadas.
Friedrich
Ratzel (1844-1904) Determinismo geográfico
Sua obra foram de
fundamental importância para o processo de sistematização da Geografia moderna.
Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações de um estudo geográfico
especificamente dedicado à discussão dos problemas humanos, o qual denominou de
antropogeografia. Seu projeto teórico, com forte caráter interdisciplinar, teve
a preocupação central de entender: a difusão e distribuição dos povos sobre a
superfície da Terra; as diversas formas de circulação de pessoas e bens
materiais; a influência das condições naturais sobre o comportamento humano; as
formações territoriais e intimamente vinculadas a estas, a dimensão política da
relação homem-natureza.
Ratzel
e a Antropogeografia
Ao longo do século XIX, a
Geografia vai se desenvolver mais rapidamente na Alemanha do que na
Grã-Bretanha. Nesta, a Geografia permanece vinculada aos modelos do século
XVIII, no qual se privilegia a exploração das pesquisas históricas em detrimento
do estudo das relações que estabelecem entre os grupos humanos e os meios em
que vivem. Dessa forma, o impacto do evolucionismo de Darwin foi mais direto na
Alemanha que em sua pátria.
Friedrich Ratzel (1844-1904)
é filho de uma modesta família do Sudoeste da Alemanha. Na universidade, estuda
Zoologia. Tem contato com o darwinismo através de Moritz Wagner que introduziu
as teses do cientista inglês na Alemanha e se distingue pelo papel que dava às migrações
para explicar a diferenciação das espécies. A primeira obra de Ratzel (Essência
e Destino do Mundo orgânico, 1869) é inspirada nesse mestre.
Ratzel participa ativamente,
como militar, da guerra de 1870 contra a França e em seguida a sua carreira
toma novos rumos, mas sua ligação com a política e com a conquista de
território continua através das análises científicas que irá fazer criando
mesmo um novo ramo da Geografia, a Geopolítica.
Depois da guerra, Ratzel
parte para os Estados Unidos, como jornalista, onde passa vários anos. Nesse
período, visita também o México. De volta à Alemanha, defende uma tese sobre a
imigração chinesa na Califórnia.
Ao doutor Ratzel é
designada, em 1876, uma cátedra de Geografia na Universidade de Munique. Em
1886, ele troca essa universidade pela Universidade de Leipzig, considerada de
maior prestígio.
A concepção de Geografia de
Ratzel tem forte influência das formulações de Humboldt e Ritter, autores que
estudou detidamente. Mas essa concepção é estruturada também sob forte
influência de Darwin. Ratzel procura estabelecer leis gerais que rejam a influência
do meio sobre os grupos humanos, dedicando-se ao estudo das relações que se
desenvolvem entre as sociedades e o ambiente em que vivem, mas introduz uma
outra ideia: o movimento é uma das características centrais do mundo vivo, em
especial do homem. Essa ideia leva-o a interessar-se pelos fenômenos de
circulação que as sociedades desenvolvem de um ponto da Terra a outro.
Antônio Carlos Robert de
Moraes sobre a importânciada obra de Ratzel.
A
obra de Friedrich Ratzel representou um papel fundamental no processo de sistematização
da geografia moderna. Ela contém a primeira proposta explícita de um estudo
geográfico especificamente dedicado à discussão dos problemas humanos. Foi,
assim, de sua autoria uma das pioneiras formulações – sem dúvida a mais
trabalhada – de uma geografia do homem. A importância de sua obra também emerge
por ela ter sido uma das originárias manifestações do positivismo nesse campo
do conhecimento científico. Ratzel foi um dos introdutores desse método – que
posteriormente se assentou como dominante – no âmbito do pensamento geográfico.
O significado de sua produção para o desenvolvimento da geografia pode ainda ser
apontado no fato de ele ter aclarado aquela que viria a ser a principal via de
indagação dos geógrafos, ou seja, a questão da relação entre a sociedade e as
condições ambientais (MORAES, 1990, p. 7).
Ratzel dividiu a Geografia
em três grandes ramos: Geografia Física, Biogeografia e a Antropogeografia. Vai
dedicar seus estudos fundamentalmente a esta última.
Positivismo
e Determinismo na obra de Ratzel
Você já deve ter lido ou
ouvido alguém fazer relação entre o nome de Ratzel e o Determinismo geográfico
e/ou contrapondo este ao possibilismo de Vidal de la Blache (assunto que estudaremos
na próxima aula). Iremos, então, tentar entender o que é o Determinismo e qual
a ligação deste com a obra de Ratzel.
Como já vimos, o período de transição
da Idade Média para a Moderna e a consequente consolidação do Capitalismo foi um
período de grandes transformações sociais, econômicas, políticas, espaciais,
culturais e também de grandes mudanças nas ciências e nas formas de pensar o
mundo. Vimos ainda que as formas de pensar o mundo, originárias desse período,
têm forte relação com o desenvolvimento das Ciências Naturais, principalmente a
partir dos estudos de Física de Newton. Para este, o conhecimento deveria ser o
resultado da observação, do cálculo e da comparação dos resultados, de modo a
permitir a elaboração de leis.
Essa ideia de que a ciência
deveria ser positiva se espalhou para todos os ramos das ciências, inclusive
das chamadas ciências humanas e sociais, entre elas a Geografia.
Mas, é somente em meados do
século XIX que surge o Positivismo. Embasado nas elaborações de Auguste Comte
(1791-1857), o Positivismo fundamenta-se no palpável, no que é passível de
comparação e de experimentação. Na concepção positivista, para se alcançar o
conhecimento, a observação é imprescindível. O Determinismo geográfico tem suas
raízes fincadas no Positivismo, principalmente em sua fase evolucionista. Essa
fase tem como base fundamental a teoria darwinista da evolução das espécies, na
qual o homem nada mais é que um ser dependente dos processos naturais.
O Determinismo considerava o
homem com um produto do meio, logo, deveria adaptar-se ao meio ambiente para
que pudesse sobreviver. Para seus defensores, as condições naturais, especialmente
a climática, determinam o comportamento do homem, interferindo inclusive na sua
capacidade de progredir. Assim sendo, em áreas climáticas mais propícias (as
zonas climáticas temperadas) floresceriam povos mais desenvolvidos. Tais ideias
foram adotadas por alguns estudiosos da Geografia, e fora dela, que viam nelas
a possibilidade de explicar a sociedade através de mecanismos que ocorrem na
natureza.
É comum, nos manuais e nas
obras de vulgarização e/ou divulgação, a associação do nome e da obra de Ratzel
ao Determinismo geográfico.
Paul
Vidal de La Blache (Possibilismo geográfico)
Em meados do século XIX, a
disputa entre a Prússia e a França se acirra, culminando na guerra de 1870.
Dessa guerra, a França sai derrotada e perde o controle da Alsácia e da Lorena.
Nesse período, a Geografia obtém grande desenvolvimento e, apoiada pelo Estado,
é implantada em todo o Ensino Básico, surgindo as primeiras cátedras e os
institutos de Geografia. Até o advento da guerra, os estudos geográficos eram
muito negligenciados pelos franceses, ao contrário da Prússia, que já contava
com grandes nomes no ramo da ciência geográfica. Após terem sido derrotados, os
franceses perceberam a importância do ensino da geografia e do desenvolvimento
da pesquisa geográfica, como mostraremos no decorrer desta aula. Mesmo sendo
derrotados pelos alemães, os franceses esforçaram-se para transferir para seu
país o modelo de ensino adotado na Alemanha.
Caberá a Paul Vidal de la
Blache a tarefa maior de implantação e institucionalização da Geografia
francesa. Tomando como referência, as formulações de sábios alemães (Humboldt, Ritter,
Ratzel), Vidal de la Blache elabora com originalidade a sua geografia e dá
sustentação para a criação de Escola Francesa de Geografia, que irá, durante
muito tempo, influenciar o desenvolvimento dessa área em várias partes do
mundo.
Para construir o edifício
teórico e metodológico da Geografia, Vidal de la Blache se embasará na ideia de
totalidade, de “possibilismo”, de mapeamento das densidades e de gênero de
vida.
Guerra
franco-prussiana (1870)
Prússia “vence” a guerra. O resultado
da guerra, ou seja, a derrota humilha profundamente grande parte da população
francesa. A partir dessa derrota, a Alemanha aparece para os franceses como um desafio
nos domínios político, intelectual e econômico.
Após a guerra, os franceses
tomam, dolorosamente, a consciência da negligência com os conhecimentos
geográficos que tinham até então. Constataram que o inimigo estava mais bem
preparado no tocante ao conhecimento do território e descobriram, a duras
penas, sua ignorância geográfica. Para eles, a superioridade militar e
econômica da Alemanha derivara de seu grande desenvolvimento científico. Dessa
forma, a Alemanha se constituía, ao mesmo tempo, em inimigo e exemplo a ser
seguido.
Vidal nasce no sul da
França. Membro de uma família de professores e militares, seu pai, professor,
deseja para o filho a mesma profissão, por isso o envia para um colégio interno
em Paris onde teria melhores condições para fazer uma carreira brilhante. Na Escola
Normal Superior, onde estuda, se dedica, principalmente, aos estudos de
história. Vai para Escola de Atenas, onde fica por três anos, e prepara sua
tese sobre a Ásia Menor. Percorrendo a Turquia para preparação de seu trabalho,
toma como guia a obra que Carl Ritter havia escrito sobre esse país. A partir
desse contato inicial, passa a se dedicar aos estudos geográficos, tornando-se
um dos grandes nomes dessa ciência.
Como vimos a pouco, a
derrota de 1870 leva a França a uma política de promoção da Geografia que
começa pelo ensino primário e secundário, seguido pelo seu desenvolvimento nas
universidades e pela política de incentivo à criação de instituições
geográficas. Vidal vai saber tirar proveito dessa situação.
Em 1875, é nomeado
conferencista de Geografia da Universidade de Nancy; em 1880, torna-se
subdiretor da Escola Normal Superior onde fica até 1898, ano em que vai para a
Sorbonne.
Vidal foi um professor
irrepreensível e um viajante incansável. Conheceu muito bem a França e a
Europa, assim como boa parte do norte da África e da América do Norte. Produziu
uma obra pouco volumosa, mas muito densa. Formou e incentivou os jovens que
estavam à sua volta e que em boa parte se transformaram em grandes geógrafos.
Vidal, mesmo sendo original,
nunca escondeu o quanto foi devedor aos mestres alemães, sobretudo Ritter e
Ratzel.
Para ele, a Geografia
deveria partir de uma idéia simples: explicar a desigual repartição dos homens
sobre a superfície da Terra e suas densidades. Para tanto, deveríamos dar um tratamento
cartográfico aos dados e considerar na análise os sinais expressos pela
paisagem e a relação dos assentamentos humanos com o solo.
A
geografia de Vidal de la Blache
Veremos aqui quatros
aspectos importantes da Geografia vidaliana – a ideia de totalidade, a questão
das densidades e do trabalho de campo, os gêneros de vida e o possibilismo. Na
aula seguinte, veremos especificamente a sua noção de região.
A
influência de Ritter: a ideia de totalidade
Vidal toma como ponto de
partida para as suas reflexões geográficas a idéia de totalidade desenvolvida
por Ritter, entretanto, ele vê nessa idéia um convite para a análise de
relações complexas e das conexões entre os diversos fenômenos e não um
chamamento à reflexão sobre o destino do mundo e da humanidade, como era a
preocupação de Ritrter. Veja no texto a seguir um trecho do próprio Vidal sobre
esse ponto.
Os
mapas de densidade e o trabalho de campo
Um dos pontos importantes
para os estudos da Geografia vidaliana eram as cartas de densidade. Para ele,
essas cartas colocavam o problema fundamental de toda a Geografia humana:
aquele das relações que os grupos humanos estabelecem com os lugares onde vivem
e com o seu entorno.
Dessa forma, a Geografia
deve analisar e explicar as relações entre os grupos humanos e o meio ambiente
onde moram. Nesse sentido, a tarefa mais importante dela é estudar e explicar
os mapas de densidades, porque eles dão uma ideia clara dessas relações.
A prática vidaliana do
trabalho de campo é indissociável de suas pesquisas e de sua compreensão de
Geografia. O campo, em certa medida, deve substituir o livro, o texto e, até mesmo,
o arquivo histórico. Ele adquire um valor heurístico fundamental, visto que
constitui o substrato no qual se lê a relação homem/meio e que vai se
transformar na problemática explícita da Geografia humana francesa. Assim
sendo, as manifestações elementares da vida, as formas de trabalho, de
deslocamentos, de habitat, de vestuário, observados no campo, são consideradas
como sinais das interações entre as sociedades locais e o meio.
O
gênero de vida
Ao abordar a relação entre o
meio e a ação humana, Vidal de la Blache, considerava que o meio é uma força
viva, que tem movimento próprio e regras de conexão que escapam à intervenção
humana. Por outro lado, a ação do homem tem grande capacidade de transformação.
O conjunto das ações e as formas através das quais os homens tiram proveito das
possibilidades oferecidas pela natureza é dada pela diversidade dos gêneros de
vida. A noção de gênero de vida permite à análise geográfica vidaliana
compreender as relações que os homens tecem com o seu meio. Relações que são
estabelecidas pelas técnicas, pelasformas de trabalho, pelas formas de
habitação, pela cultura etc.
No seu entendimento, como os
grupos humanos, necessariamente, têm que se adaptarem (se defrontarem,
estabelecerem relações com as condições ambientais), essa adaptação se traduz
na adoção de um modo de vida, de um gênero de vida: caça, pesca, criação de
bovinos, ovelhas, suínos, cavalos, agricultura etc.
O estabelecimento do gênero
de vida seria a ação humana destinada a extrair do meio ambiente o que se
necessita para comer, vestir-se, proteger-se do vento, da chuva, do frio e a forma como dispor de
ferramentas diversas. O gênero de vida aparece como um conjunto de técnicas e
hábitos.
Para o mestre francês, a
adaptação de um grupo humano a um meio ambiente específico dependia:
1. das técnicas produtivas e
da possibilidade de inventar novas técnicas;
2. da capacidade da tradição
em transmitir, para gerações futuras, as técnicas produtivas;
3. das técnicas de
transporte e da possibilidade de desenvolver trocas com grupos de localidade
diversa;
4. da força do hábito.
O
possibilismo
O possibilismo é comumente
reduzido à seguinte ideia: a natureza propõe, o homem dispõe. Esta é, sem
dúvida, a noção mais conhecida para definir a abordagem das relações homem/meio
da escola francesa de Geografia e, em particular, de seu fundador Paul Vidal de
la Blache. No entanto, o autor desse neologismo não é Vidal de la Blache e sim
o historiador Lucien Febvre, em seu livro A terra e a evolução humana. Nesse
livro, Febvre, inspirado nas elaborações de Vidal de la Blache, faz deste a
referência para os “possibilistas” em oposição aos “deterministas” e se arroga
o papel de encarnar o espírito da escola francesa de Geografia.
O possibilismo
constituiria-se, assim, numa alternativa ao determinismo do meio físico na
análise das relações que o homem mantém com esse meio. O possibilismo é a rejeição
à ideia de que o homem é, antes de tudo, passivo, submisso às condições locais
e constrangido a se adaptar.
Na análise vidalina a
compreensão das relações homem/meio se dá em toda sua complexidade, dando
relevante atenção às iniciativas humanas transformadoras da natureza. Sua
posição é frontalmente anti-determinista, ou seja, contrário ao determinismo, mas
considera que o homem sofre influências do meio no sentido de que existe uma diferenciação
natural frente à qual o homem se depara e que em cada meio dado a natureza apresenta
um conjunto de possibilidades, com limites próprios e que é em função dos dados
históricos, culturais e técnicos que algumas dessas possibilidades serão
exploradas pelos seus habitantes.
Uma
individualidade geográfica não resulta da simples consideração da geologia e do
clima. Isso não é uma coisa dada de antemão pela natureza. É preciso partir da
ideia de que uma região é um reservatório onde dormem energias na qual a natureza
depositou o germe, mas cujo emprego depende do homem. É ele quem, ao
submetê-las ao seu uso, traz à luz sua individualidade. Ele estabelece uma conexão
entre os traços dispersos; aos efeitos incoerentes de circunstâncias locais ele
substitui um concurso sistemático de forças. É só então que uma região se
precisa e se diferencia e transforma-se, por extensão, numa medalha cunhada à
esfinge de um povo. (VIDAL DE LA BLACHE, 1979, p.8)
Região (La Blache)
A questão regional é uma das
mais tradicionais em Geografia, sendo a região um conceito-chave dessa ciência.
Entretanto, trataremos, nesta aula, apenas da concepção de região elaborada por
Vidal de la Blache. Isso porque é esse geógrafo a maior expressão da chamada
Geografia regional. Como vimos na aula 10 (A Geografia vidaliana e o seu
contexto), até Vidal de la Blache, a Geografia não se constituía num ramo autônomo
do conhecimento, é com ele que atinge status de ciência na França. Ele é um pensador
do possível, das diversas possibilidades que o homem tem diante do imperativo
de habitar a Terra. Procurou salientar a importância da vinculação entre o
geral e o particular e a complexidade das entidades (regiões) geográficas, para
tanto, desenvolve a ideia de unidade terrestre. Considerava fundamental para
análise geográfica a diferenciação da superfície terrestre, das sociedades e a
compreensão de como estão articuladas, ou seja, como as diversidades dos
lugares se expressam numa determinada organização espacial.
A
evolução do pensamento regional vidaliano
Apoiando-se, por um lado,
nos resultados obtidos pelos geólogos e, por outro, em sua formação
essencialmente de historiador, Vidal concebe o espaço dos países como sendo a combinação
da história do solo e a história dos homens.
Partindo de quadros naturais
– geologia, geomorfologia, vegetação relevo, clima, hidrografia –, ele mostra
como a geologia e o clima oferecem uma série de possibilidades, cujo emprego
depende dos homens, e que é o grupo humano que, ao fazer uso da natureza, diferencia
uma região “transformando a sua extensão numa medalha cunhada como a esfinge de
um povo” (VIDAL DE LA BLACHE, 1979, p.8). Para Vidal, cabe ao geógrafo explicar
e compreender a lógica interna de cada fragmento da superfície terrestre
revelando sua individualidade, cuja réplica exata não se encontra em nenhuma
outra parte. É atribuição do geógrafo estudar a organização de cada espaço
diferenciado e individualizado.
Desde 1889, Vidal propõe uma
primeira concepção das “divisões fundamentais do solo francês”. Quinze anos de
reflexão sobre o tema o levam à elaboração de seu mais famoso livro Tableau de
la géographie de la France (Quadro da Geografia da França), em 1903, no qual
ele apresenta um espaço hierarquizado em graus diferenciados. No entanto, o
ponto de partida permanece sendo a “região natural”, apoiada na geologia, no
relevo ou no clima – Bassin parisien, Massif Central, Midi océanique. Essas
regiões se diversificam em unidades mais reduzidas e são compreendidas segundo
aspectos históricos, em função de elementos políticos e de desenvolvimento
econômico – as rotas – ou em função de elementos oriundos do raio de influência
de uma cidade.
Por sua vez, tais regiões se
revestem de aspectos e traços bastante diferenciados, cuja originalidade se
exprime numa certa fisionomia, num estilo particular de organização espacial
engendrada pelo casamento entre a natureza e a história. Essa fisionomia é o que
nós chamamos hoje de paisagem.
O
método regional
Vidal se interessa muito
pelas realidades geográficas extensas: nações ou grandes zonas geográficas,
como o Mediterrâneo. Se ele efetua recortes regionais, é para melhor
compreender a natureza das entidades que lhe interessam. Seu método repousa
sobre uma incessante dialética das escalas. Para ele, essa dialética se realiza
quando analisa a situação dos lugares ou de pequenos conjuntos territoriais:
pontos ou áreas mais ou menos extensos. A outra vertente dessa dialética das
escalas procede de modo inverso, indo das grandes áreas naturais, das nações,
das grandes regiões em direção aos “pays”, ao local. Essas operações de
regionalização que “revelam” componentes que existem no seio de um grande espaço
o apaixonam.
Quando os critérios de
partição são mudados, a forma do recorte toma toda sua amplitude. É o que torna
a démarche regional insubstituível no pensamento vidaliano. Ela revela, assim,
a complexidade dos objetos estudados quer se trate de nações, de grandes espaços,
ou do estudo do local.
Para descrever a França,
Vidal utiliza sucessivamente várias perspectivas: ele a recorta em regiões
naturais (1988); analisa conjuntos onde se desenvolvem formas de sociabilidade originais,
mas que têm na França a particularidade de se completar (VIDAL DE LA BLACHE, 1979);
faz um inventário dos pequenos “pays” e das paisagens agrárias (VIDAL DE LA BLACHE,
1904). Retornando dos Estados Unidos, se volta para a análise com base nas grandes
cidades, nas zonas de influência que elas talham no seio do território nacional
(VIDAL DE LA BLACHE, 1993).
Nesse sentido, a démarche
regional vidaliana não pode ser concebida de maneira estática, uma vez que é
dinâmica. Abrindo vários flancos, ela permite envolver na análise a natureza, a
natureza humana, a cultura e todo o conjunto complexo de “objetos e de ações” que
constituem a tessitura do território.
Referências;
Introdução à ciência
geográfica: geografia / Aldo Dantas, Tásia Hortêncio de Lima Medeiros. – Natal,
RN: Volumes 03 ao 08: EDUFRN, 2008.
interessante muito interessante mesmo gostei valeu apena ler boa parte claro que eu não terminei de ler todo em breve lerei/ aqui tem informações que eu mesmo não sabia como uma amante da geografia que sou confesso que fiquei deslumbrada por tal conhecimento da geografia parabéns nossa estou pasma com tudo isso e o tanto de informações que obtive
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